15 de dezembro de 2009

Parte 24

O resto da manhã foi como todos os outros dias de aula, exceto que agora Meg me acompanhava no intervalo. Vi o Gabriel de longe numa mesa do outro lado, e depois alguns meninos do terceiro ano foram sentar com ele. Ele olhava pra mesa onde, eu e Meg estávamos sentadas, algumas vezes e sorria, eu apenas retribuía seu sorriso. Todas as meninas olhavam pra ele, apontavam, e comentavam com as outras. Isso me causava raiva, ciúmes talvez. Mas eu preferi não dá muita importância.
Meg não tocou no nome dele, acho que percebeu que eu estava mal por conta dele. Em compensação me fez um verdadeiro interrogatório sobre todas as pessoas do colégio.
Na hora da saída, o Gabriel não voltou com a gente como eu esperava.
Meg me deixou em casa como era caminho, e foi embora.
Subi pro meu quarto, tomei banho, coloquei um short jeans e uma blusa cinza sem estampa, e fui almoçar. Logo após, fui para o computador fazer os trabalhos que os professores já haviam passado.
O dia foi como todos os outros. À noite fui pro jardim depois que tomei um copo de nescau como jantar. Minha mente ficou livre pra pensamentos como à cada vez que eu sentava naquela grama pra espairecer. Pensei na única pessoa que havia para eu pensar naquela hora, nele. Depois de lembrar de cada vez que o vi a única coisa que veio a minha mente, foi o que eu já sabia a muito tempo mas ainda assim tentava mentir pra mim mesma: Ele era demais pra mim, e nada nunca daria certo entre nós dois.
Isso me afetou até a hora de eu deitar na cama, minha felicidade de quando eu estava com ele hoje de manhã acabou, porque agora eu já não tentava mais me enganar, eu tinha que colocar na minha cabeça aquilo, tinha que deixar de me iludir, porque com certeza eu sofreria danos muito fortes com isso. Então, tentei não pensar em mais nada, apenas fechei os olhos e desejei dormir o mais rápido possível.
Na manhã seguinte, fui pro colégio com Meg. Ela me contou que alguns garotos do terceiro ano passaram em sua casa logo cedo pra acompanhar Gabriel até a escola.
– Mas ele não quis ir. Disse pra eu avisar que ele já havia ido. – Ela falou.
– Hum. – Foi a única coisa que eu consegui pôr pra fora, eu estava decidida a não falar ou pensar mais sobre ele.
– Eu até que gostei da ida deles lá, sabe?! Eles são lindos, só um que era magricelo demais, mas os outros são incrivelmente bonitos. E eles até me olharam daquele jeito. – Ela continuou a falar sobre os garotos, e eu apenas respondia o mesmo.
– São uns idiotas, Meg. Só falam vantagens, é só isso que sabem fazer.
– Pode crer que com um daqueles, eu não iria querer a boca deles falando. – Ela falou. Eu ri, Meg conseguia me fazer rir com o que falava, eu até esquecia tudo enquanto a ouvia falando essas coisas.
As aulas foram tediosas, eu prestava atenção e assim me concentrava na aula deixando todos os outros pensamentos de lado.
Na hora do intervalo, depois de comprarmos o lanche podre da cantina, eu e Meg nos sentamos na mesma mesa em que sentamos no dia anterior. Logo após, vimos cinco meninos do terceiro ano com o Gabriel vindo sentar numa mesa ao lado da nossa. Eu tentei não olhar pra ele, mas não deu muito certo e meu olhar acabou se encontrando com o dele, desviei o mais rápido que pude. E acho que Meg percebeu.
– Por que você esconde tanto isso, Bia? Eu não entendo. – Ela disse meio confusa.
– Hã? – Perguntei.
– Você sabe do quê, ou quem, eu to falando. – Ela falou séria. E era muito difícil ver Meg Couto falando com seriedade.
– Ah, ele. – Eu falei entendendo, ou deixando de me fingir desentendida.
– É, ele. Por que isso, Bia? É por timidez? O quê? Eu sei o que você sente por ele, ou ao menos imagino.
– Eu não sinto nada por ele, Meg. Eu não quero, eu não posso. – Eu falei, a primeira parte era uma completa mentira, mas a segunda era a mais pura verdade.
– Por que não pode? – Ela perguntou parecendo muito confusa.
– O Gabriel não é o garoto certo pra mim! – Eu falei num tom muito elevado, porque eu já estava explodindo com esse assunto, eu não queria mais falar sobre isso, me corroia por dentro. Quando olhei pra mesa ao lado, vi o Gabriel saindo parecendo irritado. A mesa era muito perto da minha, e se não fosse o barulho inteiro que tinha naquele refeitório, ele e os garotos teriam ouvido. Vi quando ele olhou pra trás, já estava uma distância enorme das duas mesas, seu olhar focou em Meg, e eu não sabia que expressão era a dele.
– Tudo bem. Eu já entendi que você acha que o Gabriel não é certo pra você. Mas por quê? Dá pra você explicar direito?
– Por quê? Porque ele é a criatura mais... – Olhei pra trás pra vê-lo novamente, mas ele já tinha saído da minha linha de visão. – Mais perfeita, mais linda. Ele é impossível. É demais pra mim, é muito.
Meg revirou os olhos. – E você é a pessoa mais idiota que eu conheço na minha vida. Você não escutou tudo que ele disse no quarto aquele dia? E você é cega pra não ver como ele te olha?
– Escutei, e aquilo não significa absolutamente nada. Ele apenas confundiu as coisas.
– Ok. Então pensa em todas as palavras que ele pronunciou naquele dia, pensa em cada vez que vocês já se olharam, pensa nisso tudo hoje. – Ela falou. – Agora me deixa comer e engordar.
Eu ri e percebi que não tinha comido, nem ia comer, não estava com a mínima fome, ainda mais fome praquela coxinha oleosa.Na hora a saída, eu e Meg pegamos nossos materiais e saímos da escola. Vi Gabriel indo embora, ele me lançou um olhar de mágoa, eu não estava entendendo nada.