2 de janeiro de 2010

Parte 25

A semana inteira, as poucas vezes que o vi, ele me olhava da mesma forma, eu procurava não pensar nele quando estava em casa, mas confesso que fiz o que Meg falou, pensei em todas as vezes que nos olhamos, em todas as palavras que ele havia falado aquele dia, e nada mudou minhas conclusões porque ele não tinha confirmado nada. E aquela expressão dele, não ajudava em nada também.
No sábado de manhã por volta das 9h liguei pra Meg ir passar o dia na minha casa, o que eu mais precisava era dela e do humor que ela tinha pra me distrair de todos os pensamentos que envolvesse ele.
– Bia? – Meg gritou do lado de fora do meu quarto batendo na porta.
– Espera. – Gritei. Eu estava terminando de colocar o biquíni. Estava um dia lindo, e eu queria passar na piscina.
– Agiliza aí. – Ela falou com uma voz entendiada.
– Pronto! – Falei abrindo a porta quando terminei de me vestir.
– Biquíni? Você também quer passar o dia na piscina? – Ela estranhou e ao mesmo tempo estava empolgada.
– Sim.
– Que bom que não vou precisar ficar meia hora insistindo pra gente ir pra lá!
– Você trouxe algum? – Perguntei me referindo ao biquíni.
– Claro! Você acha que com um dia desse eu não iria querer ir pra piscina? – Nós rimos e ela foi se trocar no meu banheiro.
Depois descemos pra piscina e ficamos lá até a hora que bateu fome, umas 12h mais ou menos. Fomos pra cozinha e nos servimos com a lasanha que eu tinha pedido pra cozinheira fazer pra nós duas.
– Cadê seus pais, Bia? – Perguntou Meg enquanto estávamos almoçando.
– Trabalhando, como sempre.
– Mas hoje é sábado!
– Final de semana eles viajam a negócios, não sabe? – Falei entediada.
– Ah sim. – Meg falou enquanto colocava um pedaço enorme de lasanha na boca. Eu ri.
Depois que acabamos a refeição subimos pro meu quarto, tomamos um bom banho e colocamos roupas leves.
– O que vamos fazer agora? – Perguntou Meg.
– Que tal nada?
Ela deu uma risada sem graça.
– Eu não fico sem fazer nada. Vamos lá pra baixo ver filme, eu trouxe alguns. – Ela falou enquanto revirava sua bolsa procurando os filmes, provavelmente.
– Ok!
Descemos e ela colocou um filme na TV. A história me fazia lembrar o que eu estava lutando pra esquecer. Era romance. E sinceramente, o gênero que eu menos queria está vendo agora. Me lembrava ele.
– Eu acho que vou subir. – Eu falei me levantando.
– Ah, mas por quê? Ainda não ta nem na metade do filme. – Ela disse meio desapontada.
Eu queria tanto falar o que eu estava sentindo. Queria tanto tentar colocar aquilo pra fora sem ser em forma de lágrimas. E ela era minha amiga. Eu não via mal nenhum em falar pra ela e tentar aliviar a dor. Mas eu já não queria tocar no nome dele, eu só queria que fosse como se eu nunca tivesse o visto, nunca tivesse sentido seus lábios, nunca tivesse percebido o quão lindo ele era e o quão macia sua pele parecia ser. Apenas isso. E depois de tudo, eu só queria entender o que aquele olhar significava, o porquê de ele ter me olhado com tanta mágoa, ou o que é que aquilo fosse.
– Meg, – Eu falei me sentando novamente ao seu lado no sofá. – Como o Gabriel está? – Tentei fazer a pergunta da forma mais casual possível. E eu me forcei a colocar as palavras pra fora. Eu precisava saber se aquilo era só comigo.
Ela parecia confusa. – Ah. Normal. Quero dizer, ele sai cedo e vai andar de skate, faz as refeições na hora certa. Mas... Faz alguns dias que ele não vem falar comigo. Digo, sempre que ele chegava em casa, ele batia na porta do meu quarto pra conversar. E já faz alguns dias que ele não me dá mais que um ‘Oi’ no café da manhã, no almoço e no jantar, quando ele aparece.
– Ah sim. – Falei. Ela não havia falado nada sobre a expressão dele. Talvez ele só estivesse fazendo aquilo comigo pra me provar que nunca vai haver nada entre nós.
– Mas por que você quer saber isso?
Eu não sabia se falava. O negócio de querer falar pra ela sobre o que sentia agora havia sumido, eu só queria ficar só. Apenas isso.
– Curiosidade, Meg. – Tentei parecer óbvia.
– Não parece. Você nem é curiosa. Ele anda estranho com você?
– Ele sempre foi estranho comigo. Agora quando eu o vejo no colégio ele me lança um olhar mais estranho ainda. Parece raiva. Mágoa. Não sei explicar. Melhor eu esquecer. Quero dizer, queria conseguir esquecê-lo. – Minha voz ficava mais fraca a cada palavra. Mas eu não iria me permitir chorar. Eu nunca fui fraca aquele ponto, não era agora que eu iria ser. Não por causa de um garoto. Não por causa dele.
Ela fez uma expressão atordoada. – Vou tentar conversar com ele. Acho que ele está em casa agora, ele sempre fica quando não tem ninguém lá, e eu disse que só voltaria à noite.
– Não. – Eu soltei a palavra sem nem perceber. Então abaixei o tom. – Não precisa. Ele vai saber que comentei com você, e eu não quero.
– Não há nada que você fale que me impeça de ir falar com ele. Algo está errado aí. Eu sei o que ele sente por você, Bia. Ele nunca me falou sobre alguma garota. E pra ele ter me falado tudo àquilo sobre você... Ele realmente gosta de ti.
Eu não discuti. Meg iria falar com ele de qualquer maneira. Então eu apenas me dirigi à escada sem falar mais nada. Ela me seguiu e pegou as coisas dela no meu quarto.
– Amanhã a gente se vê. – Ela falou. – Fica bem, tá?
– Você vem aqui? – Perguntei.
– Claro que sim. – Ela respondeu sorrindo.
Eu retribuí seu sorriso. – Certo.

15 de dezembro de 2009

Parte 24

O resto da manhã foi como todos os outros dias de aula, exceto que agora Meg me acompanhava no intervalo. Vi o Gabriel de longe numa mesa do outro lado, e depois alguns meninos do terceiro ano foram sentar com ele. Ele olhava pra mesa onde, eu e Meg estávamos sentadas, algumas vezes e sorria, eu apenas retribuía seu sorriso. Todas as meninas olhavam pra ele, apontavam, e comentavam com as outras. Isso me causava raiva, ciúmes talvez. Mas eu preferi não dá muita importância.
Meg não tocou no nome dele, acho que percebeu que eu estava mal por conta dele. Em compensação me fez um verdadeiro interrogatório sobre todas as pessoas do colégio.
Na hora da saída, o Gabriel não voltou com a gente como eu esperava.
Meg me deixou em casa como era caminho, e foi embora.
Subi pro meu quarto, tomei banho, coloquei um short jeans e uma blusa cinza sem estampa, e fui almoçar. Logo após, fui para o computador fazer os trabalhos que os professores já haviam passado.
O dia foi como todos os outros. À noite fui pro jardim depois que tomei um copo de nescau como jantar. Minha mente ficou livre pra pensamentos como à cada vez que eu sentava naquela grama pra espairecer. Pensei na única pessoa que havia para eu pensar naquela hora, nele. Depois de lembrar de cada vez que o vi a única coisa que veio a minha mente, foi o que eu já sabia a muito tempo mas ainda assim tentava mentir pra mim mesma: Ele era demais pra mim, e nada nunca daria certo entre nós dois.
Isso me afetou até a hora de eu deitar na cama, minha felicidade de quando eu estava com ele hoje de manhã acabou, porque agora eu já não tentava mais me enganar, eu tinha que colocar na minha cabeça aquilo, tinha que deixar de me iludir, porque com certeza eu sofreria danos muito fortes com isso. Então, tentei não pensar em mais nada, apenas fechei os olhos e desejei dormir o mais rápido possível.
Na manhã seguinte, fui pro colégio com Meg. Ela me contou que alguns garotos do terceiro ano passaram em sua casa logo cedo pra acompanhar Gabriel até a escola.
– Mas ele não quis ir. Disse pra eu avisar que ele já havia ido. – Ela falou.
– Hum. – Foi a única coisa que eu consegui pôr pra fora, eu estava decidida a não falar ou pensar mais sobre ele.
– Eu até que gostei da ida deles lá, sabe?! Eles são lindos, só um que era magricelo demais, mas os outros são incrivelmente bonitos. E eles até me olharam daquele jeito. – Ela continuou a falar sobre os garotos, e eu apenas respondia o mesmo.
– São uns idiotas, Meg. Só falam vantagens, é só isso que sabem fazer.
– Pode crer que com um daqueles, eu não iria querer a boca deles falando. – Ela falou. Eu ri, Meg conseguia me fazer rir com o que falava, eu até esquecia tudo enquanto a ouvia falando essas coisas.
As aulas foram tediosas, eu prestava atenção e assim me concentrava na aula deixando todos os outros pensamentos de lado.
Na hora do intervalo, depois de comprarmos o lanche podre da cantina, eu e Meg nos sentamos na mesma mesa em que sentamos no dia anterior. Logo após, vimos cinco meninos do terceiro ano com o Gabriel vindo sentar numa mesa ao lado da nossa. Eu tentei não olhar pra ele, mas não deu muito certo e meu olhar acabou se encontrando com o dele, desviei o mais rápido que pude. E acho que Meg percebeu.
– Por que você esconde tanto isso, Bia? Eu não entendo. – Ela disse meio confusa.
– Hã? – Perguntei.
– Você sabe do quê, ou quem, eu to falando. – Ela falou séria. E era muito difícil ver Meg Couto falando com seriedade.
– Ah, ele. – Eu falei entendendo, ou deixando de me fingir desentendida.
– É, ele. Por que isso, Bia? É por timidez? O quê? Eu sei o que você sente por ele, ou ao menos imagino.
– Eu não sinto nada por ele, Meg. Eu não quero, eu não posso. – Eu falei, a primeira parte era uma completa mentira, mas a segunda era a mais pura verdade.
– Por que não pode? – Ela perguntou parecendo muito confusa.
– O Gabriel não é o garoto certo pra mim! – Eu falei num tom muito elevado, porque eu já estava explodindo com esse assunto, eu não queria mais falar sobre isso, me corroia por dentro. Quando olhei pra mesa ao lado, vi o Gabriel saindo parecendo irritado. A mesa era muito perto da minha, e se não fosse o barulho inteiro que tinha naquele refeitório, ele e os garotos teriam ouvido. Vi quando ele olhou pra trás, já estava uma distância enorme das duas mesas, seu olhar focou em Meg, e eu não sabia que expressão era a dele.
– Tudo bem. Eu já entendi que você acha que o Gabriel não é certo pra você. Mas por quê? Dá pra você explicar direito?
– Por quê? Porque ele é a criatura mais... – Olhei pra trás pra vê-lo novamente, mas ele já tinha saído da minha linha de visão. – Mais perfeita, mais linda. Ele é impossível. É demais pra mim, é muito.
Meg revirou os olhos. – E você é a pessoa mais idiota que eu conheço na minha vida. Você não escutou tudo que ele disse no quarto aquele dia? E você é cega pra não ver como ele te olha?
– Escutei, e aquilo não significa absolutamente nada. Ele apenas confundiu as coisas.
– Ok. Então pensa em todas as palavras que ele pronunciou naquele dia, pensa em cada vez que vocês já se olharam, pensa nisso tudo hoje. – Ela falou. – Agora me deixa comer e engordar.
Eu ri e percebi que não tinha comido, nem ia comer, não estava com a mínima fome, ainda mais fome praquela coxinha oleosa.Na hora a saída, eu e Meg pegamos nossos materiais e saímos da escola. Vi Gabriel indo embora, ele me lançou um olhar de mágoa, eu não estava entendendo nada.

30 de novembro de 2009

Parte 23

Nossos olhares se encontraram e ele percebeu as lágrimas que escorriam de mim. Eu não podia ficar ali parada, enquanto ele via meu sofrimento, enquanto ele via que eu estava chorando por ele. Corri empurrando todas as pessoas que estavam à minha frente e conseqüentemente recebendo vários xingamentos, que pouco me importava. Entrei no banheiro do colégio que ficava no pátio. Pra minha sorte só havia uma garota da minha idade ajeitando o cabelo no espelho e quando me viu chorando, saiu. Apoiei minhas mãos no balcão da pia e olhei meu reflexo no espelho, continuei a chorar sem pensar em mais nada, apenas nele, meus pensamentos foram tomados por ele, naquele momento tudo em mim era ele, tudo em mim era dele, somente dele. Então eu desabei, não segurei o choro, meus soluços eram cada vez mais altos e eu não me importava se alguém entrasse ali e visse, eu estava acabada e pouco importava o que achariam disso, e o que pensariam. O que importava era apenas ele, e mais ninguém.
O sinal tocou. Sequei minhas lágrimas e esperei meu rosto voltar ao normal. Subi as escadas com pressa e fui enfrentar todas aquelas pessoas, todas aquelas conversas, tudo, tudo aquilo, quando o que eu precisava era apenas estar só. O professor ainda não tinha chegado à sala, acho que não fui a única a se atrasar, olhei a sala e Meg não estava lá. Sentei-me na ultima banca como de costume e logo após vi Meg, ela parecia estar procurando alguém. Seus olhos focaram em mim e acho que ela tinha encontrado quem procurava. Ela sentou-se ao meu lado, na fila após a minha.
– O que aconteceu? Por que você saiu chorando correndo como uma louca? – Ela perguntou.
Eu não tinha voz pra falar, eu apenas abri o caderno e olhei pra folha, eu não queria falar sobre aquilo, eu queria ficar só. Apenas isso, será que nem ela me entenderia? Acho que entendeu, porque respondeu um simples “Tudo bem” e passou a mão no meu cabelo.
Me levantei, eu não podia passar mais um minuto ali. Meg se levantou pra ir atrás de mim. Olhei pra ela de uma forma que a alertasse para não me seguir.
Corri pro jardim que ficava atrás da escola sem pedi permissão ao professor que tinha acabado de entrar na sala.
Ali era lindo, e o sol que estava iluminando a paisagem, fazia ficar mais perfeito. Sentei-me no banco que ficava no fim do jardim, abracei minhas pernas, abaixei a cabeça e desejei morrer.
– Oi. – Ouvi uma voz dizer. Não, não era qualquer voz. Era a voz dele.
Levantei a cabeça e ele estava sentando-se ao meu lado. Eu tentei forçar minha voz sair pra respondê-lo, mas não saía nada. Apenas o olhei confusa.
Ele levantou as sobrancelhas.
– O que tá acontecendo? – Ele perguntou e eu não respondi novamente.
Suas mãos se levantaram e ele colocou uma mecha do meu cabelo que estava solta, e colocou atrás de minha orelha.
– Tudo bem. Não precisa falar nada.
Minha boca se formou num sorriso fraco.
– Vem cá. – Ele falou me deitando em seu colo.
Suas mãos percorriam meu cabelo e as maçãs de minhas bochechas, me confortando e me deixando mais calma. Eu apenas sentia seu toque, o mais leve, mais delicado, e o mais desejado por minha pele. Eu não conseguia desviar meu olhar de seu rosto enquanto ele levantava a cabeça deixando sua pele ser clareada pelo sol, seus cabelos ficando mais claro e balançando conforme o vento que batia.
Levantei minha cabeça de seu colo e ficamos nos olhando por um tempo.
– Obrigado. – Finalmente eu consegui falar, com a voz trêmula, mas era um avanço.
– Poderia me dizer por que o agradecimento? – Ele falou acariciando meu rosto delicadamente com a ponta de seus dedos.
– Por ter me acalmado. Por ser você.
Ele me abraçou e eu deitei minha cabeça em seu ombro.
– Eu to aqui. – Ele disse
– Eu sei. E é só disso que eu preciso. – Forcei as palavras a saírem.
Seu abraço era tão confortante, eu me sentia inteira, bem, poderia até dizer amada. Eu sentia a calma que vinha dele, e minha agitação de antes tinha ido embora. Aquele abraço durou até que o sinal tocou.
– Acho que devo ir pra aula. – Falei soltando ele.
– Acho que você deve ir pra casa. – Ele desafiou.
– E por qual motivo eu explicaria minha saída?
– Enjôo.
– E aí pensariam que eu estou grávida? Melhor não.
Nós rimos. E era tão bom rir de novo.
– Dor de cabeça?
– Eles me dariam remédio e mandariam esperar passar.
– Disenteria?
– E aí todos criariam piadinhas engraçadas sobre mim.
– Sabe? Você é complicada demais. Vai pra aula mesmo! – Ele falou fingindo está irritado.
– Isso que vou fazer agora. Tchau. – Falei me levantando.
Ele segurou minha mão.
– Espera. – Ele disse se levantando também.
Nós dois colocamos um sorriso no rosto e ele me levou até minha sala de aula. Eu me sentia tão bem. E feliz. Feliz por completa, como nunca.

29 de novembro de 2009

Parte 22

Os dias se passaram. Muito raramente eu via Gabriel saindo de casa, ou chegando, mas não nos falávamos, o olhar dele era como o de quando ele me pediu desculpas, um olhar com culpa e dor. Eu e Meg passávamos todos os dias juntas de alguma forma. Eu me divertia quando estava com ela, e até me pergunto como eu fiz pra conseguir viver sem sua companhia esses anos todos, agora eu tinha uma vida, não como a das pessoas normais, mas eu sentia que algo em mim estava aceso. E eu, querendo ou não, isso não era culpa apenas da amizade de Meg, tinha muito do Gabriel na chama da minha vida.
Finalmente tinha chegado o dia de o inferno começar novamente. Era o fim de minhas férias e eu tinha começado o dia na rotina que eu tinha de segunda à sexta.
Depois do café da manhã com meus pais, fui pro jardim esperar Meg chegar, a partir de hoje eu não iria mais com minha bicicleta pensando em como minha vida é monótona, agora eu iria com uma tagalera. Me sentei na grama e como sempre meus pensamentos invadiram minha mente, tantos pensamentos que eu mal conseguia saber o que tava pensando, tantas coisas. Nada envolvendo a escola, seria tudo como sempre. A novidade do semestre é que Meg voltaria a estudar comigo novamente, e isso até me animou um pouco. Além dela, tinha o Gabriel.
A campanhia tocou, só poderia ser ela, fui até a porta com meu material escolar.
– Bom dia – Ela disse.
– Meio difícil ter um bom dia quando tenho que freqüentar aquele departamento.
– Não fala assim, Bia. Comece a ver as pessoas de um jeito mais amigável.
– Ha-ha-ha. – Ri de forma irônica e ela revirou os olhos.
Na portaria do colégio foram as mesmas coisas de sempre, todo mundo contando as viagens que fizeram nas férias, as baladas que foram, os lugares lindos que visitaram, os caras ou as garotas que ficaram, tudo como sempre, as mesmas futilidades que por mais que não fossem as mesmas tinham o mesmo propósito: vida social. O que, praticamente, eu não tinha.
De repente, apenas os garotos continuaram falando, as meninas todas olhavam pra eu e Meg que estávamos paradas apenas observando aquelas inutilidades. Olhei pra trás pra me certificar que não era pra mim, porque afinal, todos já tinham decidido não forçar mais amizade comigo. Quando vi quem estava vindo atrás meu coração bateu tão forte que chegava a doer, pensei até que ele fosse pular de mim. Era Gabriel, tão lindo que eu tinha plena certeza de porque todos agora estavam em silêncio apenas olhando como seu cabelo balançava a cada passo leve que ele dava. Como suas bochechas ficaram vermelhas quando percebeu que todos olhavam para o novo aluno, como seu olhar baixo focando a rua era meigo, como aquele uniforme caía bem em seu corpo. Ou talvez, apenas olhavam o conjunto de todas as partes que lhe formavam, porque provavelmente ninguém o via como eu vejo. Ninguém ali estava se sentindo como eu, minhas pernas bambearam, e parecia que formigas e borboletas tinham atingido meu estômago e meu coração batia tão forte, tão acelerado a cada vez que via seus movimentos, seu rosto, a cada vez que eu o via. Elas apenas sentiam desejo, e não é que eu não sentia isso por ele, claro que eu sentia, ele era o que eu mais desejava pra mim, pra minha vida, e só de pensar naquele meu momento com ele, só em pensar na proximidade que ficamos, eu não sabia como eu podia sentir isso por ele, eu não conhecia que sentimento era aquele, porque eram tantos, tantas emoções, e depois daquele dia eu não conseguia mais olhar pra ele e não sentir dor por saber que aquilo não se repetiria, chegava a me doer fisicamente, o nó na minha garganta que sempre aparecia, agora estava começando a se formar de novo, isso doía. Quando dei por mim, uma lágrima estava caindo em meu rosto, todas as pessoas já estavam comentando sobre sua beleza e ele estava cumprimentando Meg com um “Oi” quando caí na realidade.

Parte 21

Meg me puxou me sentando na cama e sentou ao meu lado.
– O que você acha sobre o assunto? – Ela perguntou.
– Não sei.
– Como assim não sabe?
– Não sei Meg. Ainda to muito confusa, vou tentar absorver tudo isso primeiro. É muito pouco tempo, e isso já ta tão forte em mim, que eu não consigo mais mandar nas minhas próprias idéias.
Meg fez cara de confusa.
– Eu preferi não falar que você estava aqui. Ele poderia ficar mais irritado ao saber que você estava aqui e poderia está escutando.
– Tudo bem. Acho melhor irmos dormir agora.
– Nossa! O Gabriel estragou com nossa noite de garotas! – Falou Meg decepcionada.
– Desculpa. – Falei e dei um sorriso de leve.
Meg deitou, apaguei a luz e deitei também.
A recente recordação de sua voz falando todas aquelas coisas sobre mim invadiu meus pensamentos, e eu só conseguia pensar naquilo, sem nenhum objetivo, apenas tentei imaginar seu rosto e seus movimentos enquanto falava aquilo. Eu não queria me permitir a me iludir em relação a ele, mas era tão difícil.
Eu precisava beber um copo de água pra minha agitação parar. Me levantei e fui até à cozinha.
Já passava da meia noite e procurei não fazer barulho quando fui abrir a porta. Procurei o receptor e acendi a luz da cozinha. Peguei um copo de plástico dentro da gaveta do balcão e água na geladeira.
– Beatrice?
Me virei automaticamente quando escutei aquela voz. A voz dele. Quando percebi os poucos centímetros que nos separavam o copo caiu espalhando a água pelo chão.
Eu apenas fiquei olhando-o. Seu rosto espantado e confuso ao mesmo tempo. E ele estava com olheiras, não que elas conseguissem diminuir a beleza dele, mas o aparentava cansado. Sono, talvez.
– Você... Você aqui? – Ele perguntou com sua expressão ficando mais confusa.
– É. – Forcei a letra a sair da minha boca.
Ele olhou pro chão onde a água, e o copo estavam.
– Ah, é... Acho que tenho que limpar isso. – Falei.
Abaixei-me. E ele fez o mesmo. Nossas mãos tocaram o copo e se tocando ao mesmo tempo. Eu podia sentir sua respiração quente, e o toque de suas mãos nas minhas. Eu me sentia tão fraca com a batida forte que meu coração fazia, minhas pernas tremendo e eu achava que cairia ali mesmo. Nós nos olhamos e ele segurou minha outra mão me levantando junto a ele, nossos corpos estavam quase colados e nossas mãos apertando umas as outras. Nossos rostos foram lentamente puxados um contra o outro, seu olhar estava penetrando no meu e aquilo estava fazendo as coisas pularem dentro de mim, como se uma festa estivesse acontecendo no meu interior, se não fossem suas mãos segurando as minhas eu poderia está no chão como aquela água. Nossos lábios se encontraram e ele segurava minha mão com mais firmeza. Era meu primeiro beijo, e era com ele, com meu amor. Ele me beijava com delicadeza e eu não sentia vontade de parar, acho que ele também não porque demorou um pouco pra nós estarmos separados novamente.
– Desculpa. – Ele disse com uma expressão de algo que eu não sabia o que era, acho que dor, culpa. E saiu da cozinha em direção ao seu quarto.
Um nó se formou na minha garganta, os soluços começaram e as lágrimas caíram. Sim, eu chorei. Não porque não foi bom, e sim porque eu nunca mais teria aquilo novamente, eu nunca mais o teria tão perto, eu nunca mais sentiria aquela sensação, a melhor sensação que eu já tive em toda a minha vida. Não com ele.
Na manhã seguinte, mesmo tendo dormindo muito mal na madrugada anterior, eu acordei cedo na esperança de explicá-lo que não havia porque se desculpar, eu queria explicá-lo como tudo foi pra mim. Mas ele não estava em casa. Quando perguntei sobre ele à Meg ela falou que ele às vezes saia bem cedo pra andar pra espairecer um pouco.

27 de novembro de 2009

Parte 2O

– Oi mamãe, oi papai! – disse Meg fazendo voz de criança e pulando em cima deles.
– Oi filha! Ainda acordadas? – Disse o Senhor Mauro.
– Sim. Vamos dormir daqui a pouco. – Ela disse.
– Hum, então vamos jantar e depois vamos pra cama. Vocês já deveriam ir, não? – Disse a mãe de Meg.
– Sim! Vamos agora – Eu disse.
– Ah, Oi Bia! Boa noite. – Disse a Sra Cecilia.
– Boa noite pra vocês. – Falei.
Eles deram um beijo em nossas cabeças e eu e Meg fomos pro quarto.
Meg puxou um lençol e colocou um travesseiro e acho que pra ela sua cama já estava arrumada, depois se trocou na minha frente mesmo enquanto eu arrumava minha cama. Comecei a dá risada.
– Que foi? – Ela perguntou.
– Acho que aqui tem um banheiro bem ali pra você se trocar. – Falei
– E acho que tudo que tenho aqui você tem. – Meg falou passando a mão em seu corpo.
E nós começamos a rir. E era um absurdo o que ela tinha falado, porque o que ela tinha eu tinha bem menos que ela.
Terminei de arrumar a cama, e Meg foi escovar os dentes porque ela disse que estavam sujos de pipocas. Enquanto Meg estava no banheiro peguei meu pijama e minha escova de dente e quando ela saiu entrei e fui me trocar.
Escutei um “toc-toc” na porta do quarto, Meg atendeu e ouvi a voz dele. Pensei em abrir ir pro quarto apenas pra vê-lo e me certificar que estava tudo bem depois daquele sonho. Claro que estava, foi apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo daqueles que se eu precisasse não dormir pra não tê-lo, eu não dormiria.
Mas preferi não abrir, percebi que era uma conversa apenas dos dois. Coloquei o ouvido na porta pra ouvir a conversa melhor, não era meu costume fazer esse tipo de coisa, mas tinha ele no meio, e isso que importava.
– Meg! – Ele falou, foi quase um grito.
– Oi Gabri... – Ela tentou falar, mas ele começou a extorquir o que tinha pra dizer antes que ela terminasse.
– Eu não sei o que tá acontecendo comigo. Ultimamente eu só penso na Beatrice, e eu... e eu não sei mais o que ta acontecendo comigo. E eu tenho medo do que isso possa ser, tenho medo do que eu to sentindo. Tudo que eu amo vai embora, Meg. Só me restou você e meus tios. E eu tenho medo que eu esteja sentindo algo forte por ela, e de sofrer com isso, porque eu sei que ela é muito mais do que uma garota como as outras, ela nunca olharia pra uma pessoa estúpida como eu, que só a tratou mal, um bruto, um idiota. – Ele falou sem parar nem pra respirar, e foi inevitável não chorar a cada palavra que ele falava, eu bloqueava meus soluços pra ele não ouvir. E finalmente ele parou.
– Que lindo! – Meg disse com uma voz animada e fofa. – Que lindo, que lindo! Você ta apaixonado, e pela melhor garota do mundo!
– Eu desabafo pra você e é isso que me diz? Que lindo? É só isso que tem a dizer? – Ele disse irritado. Logo após vi a porta se fechar.
Abaixei a tampa da privada e sentei, fiquei em choque, não sabia o que fazer, e as lágrimas só continuaram jorrando, estava confusa demais pra entender o que tava acontecendo. Tentei me acalmar, lavei o rosto e Meg bateu na porta do banheiro.
– Bia, desceu pela descarga? – Meg gritou.
– To aqui. – Falei tentando controlar minha voz.
– Precisamos conversar, hein! – Ela disse.
– Eu escutei tudo. – Falei abrindo a porta do banheiro.

22 de setembro de 2009

Parte 19

Escutei a voz de Meg do outro lado da linha.
– Oi Bia! Hoje de manhã eu te liguei e me disseram que você estava indisponível.
– Oi Meg. É que eu acordei quase agora. – falei.
– É, imaginei isso. Ei, hoje você pode vir dormir aqui?
Me lembrei de Gabriel e logo me veio aquele horrível pesadelo na mente, eu precisava vê-lo, precisava olhar pra ele e ver que estava tudo bem.
– Claro Meg. Mas antes tenho que ligar pra meus pais.
– Ok então. Quer que eu vá aí te buscar?
– Se não for incomodo.
– Claro que não é! Então passo aí às 18 horas. – ela falou animada.
– Certo.
– Tchau, beijo!
– Outro. – falei e desliguei o telefone. Deixei-o em cima do sofá e terminei meu almoço. Depois liguei pro escritório da empresa do meu pai, mas ninguém atendia.
Resolvi ir a jardim tomar um pouco de ar fresco, mas vi minha mãe na cadeira de sol em frente à piscina parecendo se bronzear. E meu pai estava sentado numa cadeira em baixo do guarda-sol lendo um livro.
– Dia de folga? – Perguntei chegando perto da piscina.
– A festa de ontem foi cansativa. – disse minha mãe abaixando um pouco os óculos e sorrindo.
– Pai – falei sentando ao seu lado – Meg me chamou pra ir dormir na casa dela hoje. Posso?
– Ela pediu aos pais dela? – ele perguntou.
– Hum, acho que sim.
– Então tá. Que horas você vai?
– Às 18:00 ela vem aqui e eu vou com ela.
– Certo então. – ele disse e voltou a ler o livro.
Fui à minha mãe falei que iria dormir na casa de Meg e ela não se importou, falou apenas um “Ok”.
Ocupei minha mente jogando GTA a tarde inteira pra passar a ansiedade de vê-lo.
Olhei a hora no relógio em cima do criado mudo e mostrava 17:06. Tinha que me arrumar e arrumar minha mochila. Coloquei uma roupa de dormir e uma roupa pra voltar pra casa amanhã, toalha, escova de dente e sabonete.
Fui tomar banho e me arrumei lá no banheiro mesmo, quando saí Meg estava sentada em minha cama.
– Olá gata, estava esperando tu sair de toalha. – ela disse. Nós rimos. – E então vamos?
– Espera – falei.
Fiz um rabo de cavalo mal feito e descemos. Meus pais estavam assistindo noticiário na sala.
– Pai, mãe, to indo. – falei.
– Ok, manda um beijo pra Cecília e pro Mauro. – disse minha mãe.
– Certo! – falei.
– Comporte-se. – disse meu pai e sorriu. Dei um sorriso de leve.
– Tchau lindos. – disse Meg sorrindo.
– Tchau linda – disse minha mãe também sorrindo. Meu pai sorriu e eu e Meg fomos.
O caminho inteiro Meg falou sobre o cara que ela pegou ontem. Chegando na casa dela, vi que o Gabriel não estava como na maioria das vezes.
– Er... Meg, cadê teu primo? – perguntei.
– Ele estava saindo com o skate quando eu tava indo pra tua casa.
– Só perguntei pra confirmar.
– O que vamos fazer? – Meg perguntou.
– Você que sabe. – falei e dei de ombros.
Fomos assistir seriados e filmes comendo pipoca.
Por volta das 21 horas ouvi alguém chegando e abrindo a porta.

21 de setembro de 2009

Parte 18

– Ah, crianças. Vocês perderam de ver o discurso que Elizabeth fez em homenagem à Mauro e a mim – Sra Cecília disse
– Não acredito que perdi – Falei tentando parecer decepcionada.
– É. Eu também queria ter visto. – Disse Gabriel.
Eu já tinha visto alguns discursos de meus pais à trabalho, eram sempre superficiais.
– É uma pena. Ficamos muito lisonjeados. – Falou Sra Cecília.
– Ah, não foi nada – Disse minha mãe.
Eles continuaram colocando o assunto em dia e eu fingia ouvir, aquilo tudo estava muito chato, eu estava quase deitada na cadeira.
Ouvi os pais de Meg falando que tinham matriculado ela no colégio em que eu estudo, me animei completamente, até que enfim algo que preste naquele zoológico.
– Sério? Ela vai estudar lá mesmo? – Perguntei
– Sim, e o Gabriel também. – Disse Cecília passando a mão no ombro dele – Ele está no último ano. Ano que vem já vai pra faculdade.
Ele deu um sorriso falso de depois beliscou algum tira-gosto que tinha na mesa. Eu dei um sorriso um tanto verdadeiro.
O jantar começou a ser servido e Meg chegou à mesa com um sorriso de um olho ao outro. Me surpreendi, pra mim ela ficaria com o cara até o fim.
– Bia, tava te procurando – Ela disse sentando-se ao meu lado.
– Achou – Falei sorrindo, eu sabia muito bem o que ela tava fazendo.
O resto da festa foi desinteressante, todos da mesa conversavam menos eu e Gabriel, ele sempre olhava pra baixo e eu fazia o mesmo, e quando nosso olhar se encontrava logo eram desviados pra baixo novamente. E no resto dos convidados eu não prestei atenção no que eles faziam.
Por volta das 22:00 os convidados estavam se retirando. Por último foi a família de Meg, nós nos despedimos. Gabriel sorriu e acenou e então eu estava sozinha com meus pais.
Entramos em casa e depois de um breve comentário sobre o jantar, desejamos boa noite e fui pra o meu quarto.
“Eu estava em algum lugar que me parecia um hospital segurando a mão de Gabriel, que estava deitado sob a maca. Ele parecia estar morrendo, eu me sentia fraca como se tivesse perdendo uma parte de mim. Chorava e implorava pra ele não me deixar só aqui. Seus olhos iam fechando cada vez mais, e ele realmente estava me deixando.”
Abri meus olhos assustada, eu mal conseguia enxergar meu quarto de tantas lágrimas que embaçavam meus olhos. Continuei deitada na cama olhando o teto, amedrontada enquanto deixava as lágrimas escorrerem e me lembrando que aquilo havia sido apenas um pesadelo.
Me levantei e percebi que estava com a mesma roupa de ontem da festa, olhei no relógio marcavam 11:27. Após fazer minhas higienes, desci. Fui almoçar assistindo desenho.
– Telefone pra você – Disse uma vez feminina. Me virei pra olhar quem era, e tinha uma das empregadas lá de casa parada olhando pra mim com um sorriso muito, mas muito falso.
Peguei o telefone e agradeci.

30 de agosto de 2009

Parte 17

Então eu percebi que também estava chorando, havia lágrimas em meu rosto, e eu sentia uma dor em mim ao vê-lo daquele jeito. Com tudo que ele tinha dito, eu me coloquei em seu lugar, e eu não sabia como confortá-lo. Eu não conseguia achar as palavras certas. Coloquei a mão em seu queixo levemente, fazendo-o olhar em meus olhos.
– Vai passar – Falei
– Isso é a coisa que mais ouço há dois anos – Falou num tom de revolta.
– Quero dizer, é como uma tempestade, ela vai causando danos, e fazendo uma bagunça aí dentro, – apontei pra seu peito – mas uma hora ela vai acalmar, mesmo que dure uma noite inteira e sabendo que cedo ou tarde ela voltará. – Ele me olhava prestando atenção, mas um pouco confuso – O que eu digo, é que mesmo que sua dor dure muito tempo, mesmo que isso tenha causado danos em você, algo vai ocupar essa dor, e não importa o que seja, mesmo que ela volte a te machucar novamente. – Agora ele parecia pensativo, não mais confuso. Ele não estava mais chorando, só restavam algumas lágrimas secas por suas bochechas, e nas minhas também. – Bom, agora vou voltar pra mesa. E você também deveria fazer o mesmo, acho que estão preocupados.
– É. – Falou ele assentindo com a cabeça – Só vou me recuperar um pouco.
– Então... é isso – Falei enquanto me preparava pra levantar, mas antes disso ele segurou minha mão, meu coração parou e eu gelei automaticamente.
– Beatrice, obrigado.
– Por quê? – Eu realmente não sabia o motivo.
– Er... por ter me dado essa força, você realmente me fez crer que isso vai passar algum dia. É que você me passou segurança, e dividiu essa dor comigo. Não sei bem explicar. – Ele parecia se complicar com as palavras.
– Não foi nada. De verdade. Eu me sinto bem por saber que você ta melhor.
Ele deu um sorriso que me parecia bem sincero.
– Ah, outra coisa. Desculpa.
– Desculpa? Pelo quê eu deveria te desculpar?
– Você sabe, pelas quedas, e por ter sido tão grosso contigo, eu realmente achava que você era mais uma daquelas patricinhas idiotas. – Ele deu um sorriso de lado meio tímido. Ainda segurava minhas mãos, e me olhou esperando uma resposta. Eu demorei a absorver o fato de que ele achava que eu era um tipo de garota daquelas que eu odeio e por isso tinha sido rude comigo.
– Hã... não se preocupa com isso. E ah, você se enganou feio com a suposição de que sou alguma “patricinha”.
– Eu sei – Ele ainda estava com o sorriso, digamos que perfeito, no rosto. Mas a expressão dele parecia surpresa e ao mesmo tempo de achando algo engraçado quando ele olhou pra algo atrás de mim. – Olha só – falou balançando a cabeça como algo que parecia desaprovação. Olhei pra trás e vi Meg e o garoto que tínhamos visto antes no maior amasso. Estavam encostados no canto portão por trás de algumas plantas, do outro lado da piscina. – Mais uma vítima de Meg – Disse no mesmo tom de desaprovação de antes.
Eu ri e olhei pra mão dele que continuava na minha.
– Desculpa – Ele falou tirando a mão de cima da minha como se de repente ela tivesse começado a pegar fogo.
– Nã-ão, eu não me incomodo – Falei dando um sorriso meio tímido e quase o obrigando a colocá-la lá de volta. Mas ele não segurou, apenas correspondeu meu sorriso.
– É melhor irmos pra mesa – Disse ele se levantando, fiz o mesmo ainda sem acreditar que eu tinha estado no meu jardim com Gabriel, onde geralmente eu ficava sozinha e deprimida.
Chegamos à mesa e nos sentamos. Ele no lugar vazio ao lado da Sra Cecília e eu ao lado de meu pai.
– Onde estavam? – Perguntou minha mãe
– Quando eu tava voltando do toalete vi Gabriel com umas pessoas, e ficamos conversando. – Falei
– Ah, com quem, filha? – Perguntou meu pai
– Não lembro o nome, pai. – Falei como se fosse óbvio
– Você lembra Gabriel? – Perguntou o Sr Mauro
– Não cheguei a perguntar o nome – Disse ele.
– Mas, cadê Meg? – Tentei mudar o assunto
– Ela disse que ia no toalete procurar à sua procura, porque você tava demorando. – Respondeu a Sra Cecilia
– Hum, ok então.
Eu e Gabriel nos olhamos e rimos.
Eu estava com sérias dúvidas sobre como Meg chegou no garoto, quais foram o truques de sedução? Depois ela teria de me contar tudo.

Parte 16

– Meg, vou ao banheiro, já volto.
– Espera! Vou contigo. – Disse ela se levantando
– Hum... Acho melhor não, volto rápido – Falei tentando convencê-la
– Ah, ok então – Falou ela sentando-se novamente
Saí em direção ao banheiro, mas desviei e fui até o jardim, e lá estava ele na mesma posição que antes, cheguei um pouco perto, mas hesitei e decidi voltar, ele me detestava não havia nada que eu pudesse fazer.
– Oi – Escutei o dizer com uma voz fraca. Olhei pra trás e percebi que ele tinha me notado.
– Oi, é... é que, então... estão sentindo sua falta na mesa, estão preocupados, mas se não quiser ir, eu posso dizer que te conversando com alguém – Falei, mas na verdade eu que estava sentindo falta dele lá, e eu que estava morrendo de preocupação, mas eu não falaria isso pra ele. E o mais incrível era como perto dele eu não conseguia falar sem gaguejar, as palavras se confundiam, minha mente ficava completamente conturbada.
Eu ficava tão ridícula na frente dele, tão idiota.
Até que eu olhei em seu rosto e vi lágrimas quase secas ainda rolando lá.
– Você ta chorando? – Perguntei sentando em sua frente
– Não to não
Coloquei minhas mãos trêmulas em seu rosto e enxuguei uma lágrima que caía.
– Tá sim – Falei enquanto retirava a mão
– É, acho que sim – Falou como se tivesse perdido uma luta
– O que aconteceu? – Perguntei – Se quiser falar, é claro. Se não quiser...
– Não, não – Ele me interrompeu – Não é nada demais, é só que... eu vejo as famílias todas juntas, e me lembro da minha, é que bate uma saudade – uma lágrima escorreu de seus olhos – Eu me pergunto porque foi assim, porque foi comigo – Ele parou – Desculpa, você não precisa ficar ouvindo...
– Não, continua – Falei
– É que eles eram tudo pra mim, meu suporte. Eu tenho meus tios, tenho Meg, mas não tenho meus pais nem minha irmã. Eu sei que não devia me sentir assim tendo eles, eu sei que to sendo ingrato. Mas é inevitável. E não dá pra comparar ou substituir pai e mãe. – Então ele parou e abaixou a cabeça novamente e eu me permiti afagar seus cabelos enquanto falava.
– Eu acho que te entendo. Eu não perdi meus pais como você, mas eu também me sinto só, eles vivem pro trabalho, e acham que me dando conforto fazem seus papéis. Eu só queria um pouquinho da atenção deles, mas há muito tempo eles não fazem isso. Digo, não me dão atenção, sabe?
– Não, eu não sei – Disse ele com a expressão confusa – Olha, eles estão ali – Ele apontou pro salão – Eles estão lá, eles podem não te dá a atenção que você quer, eles podem não ser os melhores pais do mundo, mas eles acham que estão sendo bons pais assim. Eles acham que você está feliz e mesmo você não estando. Lá estão eles, você pode ir e abraçá-los agora mesmo, você pode ter uma conversa e talvez eles mudem – Ele estava falando como se não agüentasse mais ficar calado e cada vez mais escorriam lágrimas por seu rosto – Você ta entendo o que eu to tentando dizer? – Não era bem uma pergunta mas mesmo assim acenei a cabeça como um sim – É que enquanto há vida, há possibilidade de mudança, há esperança – Ele abaixou os olhos – Mas quando não há vida, quando simplismente... morrem. – Ele parou como se não conseguisse mais pronunciar uma sequer palavra, chorava, muito pior que antes.

Parte 15

Meg vinha na frente, ela estava com os cabelos soltos, com a roupa que comprou no shopping e como sempre, linda. A Sr Cecília usava um vestido prata de alças finas com um xale em seu ombro e um salto alto fino preto. O Sr Mauro usava um terno cinza escuro com uma gravata preta por dentro. Os dois vinham juntos com os braços dados, e por ultimo vi Gabriel vindo de cabeça baixa. Por um momento achei que tudo tinha parado, eu só conseguia enxergá-lo, não via mais ninguém, mais nada, apenas ele, que estava mais lindo que nunca, vestia uma camisa social, daquelas do terno, com um blaiser desabotoado por cima, uma calça jeans preta e um tênis, pela primeira vez vi seus cabelos todo certinho, ele estava super meigo, completamente perfeito. Mas parei de observá-lo quando senti os lábios de Meg dando um daqueles beijos de meia hora em minha bochecha como cumprimento, depois cumprimentou meus pais com um “Olá”, e ficou ao meu lado enquanto Gabriel dava um “Oi” bem seco para eles e passou direto por mim. Ok, eu não esperava que ele fosse a pessoa mais simpática do mundo comigo, mas não pude deixar de criar alguma coisa parecida com expectativa, e fiquei decepcionada com a atitude dele, ah, ele não morreria se desse um Oi daquele direcionado a mim também.
– Vamos Bia! Vamos pra mesa. – Disse Meg.
Nós fomos nos sentar na mesa principal, ela ficava à frente das outras e era um pouco maior. Logo a banda começou a tocar, era um som ambiente e agradável, Jazz. Não que eu escutasse esse tipo de música, mas era algo refinado e calmo. Perfeito pra ocasião.
– Ai, Bia que é isso tocando?! Não tinha algo mais animado não? – Falou Meg fingindo decepção
– Meg... olha em volta, isso é um jantar tipo que formal, não uma boate. – Falei rindo
– É mesmo – Disse Meg enquanto olhava. – E até que tem uns garotos... bonitos. – Falou quase babando enquanto olhava para uma mesa no final do salão, tinha um menino que parecia... É. Bonito, ou melhor dizendo, lindo. Ele conversava com a família, tinha os cabelos escuros e arrepiados, a pele clara, os olhos não dava pra ver muito bem por causa da distância, tinha um físico legal e parecia ter uns 19 anos. Muito provavelmente eu tinha o cumprimentado na entrada, mas estava tão ansiosa pela chegada de Gabriel que com certeza não percebi. Falando nele, eu não tinha o visto desde que ele passou por mim na entrada, desviei o olhar do garoto e olhei em volta, não havia nem sinal dele.
– Cadê o Gabriel?
– Deve ta por aí, ele não tava muito afim de vim, só veio porque eu sou A Meg. – Disse ela. – Quer ir procurar por ele?
– Er... – Hesitei. – Bom, acho que ele não vai se perder – Falei tentando não parecer interessada.
– Então ta, mas eu queria tanto passar por ali. – Disse Meg olhando pro garoto novamente.
– Uau Meg, gamou hein. – Falei rindo
– E como – Falou ela sem desviar o olhar, e com uma voz... digamos, um pouco safada.
Os pais dela chegaram à mesa e também perguntaram por Gabriel, de modo que pediram pra que fossemos procurar por ele. Na hora eu gelei, mas não tinha como dizer não.
– Por mim, vamos. E aí, Bia?
– Er, vamos.
Nos retiramos e andamos entre as mesas procurando por ele. Meg preferia claramente procurar pelas mesas do fim do salão, ela dava algumas olhadas esclarecedoras pro garoto e ele correspondia. Mas não encontramos quem estávamos procurando por lá, então fomos procurar lá fora, olhamos e nada.
– Onde se enfiou esse garoto?!
– Bem, não sou eu que sei – Falei e enquanto virávamos o vi sentado por trás da piscina, onde não tinha ninguém. Eu não podia acreditar que ele tava no meu jardim, no meu refugio. Não vou negar que senti uma pontada de ciúmes, nada sério, mas ali era meu lugar. Ele estava com a cabeça entre os joelhos, imóvel. Meg pareceu não tê-lo notado, continuava resmungando sobre como ele sumia do nada, achei melhor, até porque ele não estava com aspecto de querer alguém por perto.
– É, Meg... – Falei enquanto virava ela e puxava-a em direção ao salão novamente – Vamos pra mesa, ele deve ta por aí, acho que não procuramos direito. – Falei tentando convencê-la. Ela deu de ombros e fomos pra mesa.
– Pai, mãe, não achamos, mas ele deve ta por aí – Falou ela usando minhas palavras.
– É, ta certo. Ele deve ter conhecido alguém. – Disse o Sr Mauro
Minha mãe e meu pai já estavam na mesa, eles conversavam com os pais de Meg sobre o que vinha acontecendo em suas vidas, ou melhor, em seus trabalhos. Eu não prestei atenção, minha mente só desejava estar perto de uma pessoa. Eu precisava de algum contato com ele, mesmo que isso fizesse as coisas piorarem, mesmo que ele não me quisesse por perto. Decidi ir até o jardim.

28 de julho de 2009

Parte 14

Acordei cedo, mas não queria ficar quieta, acho que só me distraindo Gabriel não poderia vim à minha mente. Fiz minha higiene matinal e como o dia tava congelante, coloquei uma blusa branca regata com um casaco quente e uma calça. Desci mas não vi nem sinal dos meus pais. Então fui ver se estavam no quarto. Bati duas vezes e minha mãe disse que podia entrar. Ela estava na frente do espelho enorme que tinha na parede ao lado de sua cama colocando seus brincos e meu pai estava lendo um jornal na cadeira-sofá que ficava em frente à janela, que estava fechada por conta do frio e da chuva.
Eles ficavam super elegantes até mesmo em casa, minha mãe vestia uma blusa creme de mangas até as mãos com um chale roxo enrolado em seu pescoço, uma calça marrom de seda e um salto alto. Sempre bem vaidosa. Meu pai estava com uma blusa preta, também de mangas longas, uma calça e um chinelo.
– Oi mãe, oi pai. Bom dia.
– Oi filha, bom dia. – Disse minha mãe
– Bom dia – Falou meu pai
– Vocês já tomaram café? – Perguntei
– Não. Vamos descer agora. – Falou meu pai colocando o jornal em cima da cama.
Descemos e fomos tomar nosso café da manhã, conversamos sobre os preparativos pro jantar e eles insistiam em ficar perguntando a cada minuto se os pais de Meg não tinham se chateado mesmo por eles não terem ido visitá-los antes, eu sempre respondia que não.
Comi rápido, mas não queria sair da mesa até que eles saíssem, então peguei mais um copo de suco e fiquei bebendo pouco a pouco. Acabamos e minha mãe foi pra cozinha olhar os preparativos enquanto eu e meu pai fomos pra sala. Tava passando Jornal na tevê, então fui olhar a chuva pela janela. Era incrível como ela não podia ser evitada, ela apenas caía e ninguém podia impedir. Continuei olhando e Gabriel estava insistindo em entrar nos meus pensamentos. Então fui até meu pai.
– Pai, o que acha de jogarmos xadrez? – Falei me virando pra ele, nada como um jogo que exige concentração máxima pra te fazer esquecer tudo.
– Filha agora não. Estou assistindo.
– Ok pai. – Abaixei a cabeça e fui pro meu quarto, não queria dormir, então fui pro computador. Então fiquei jogando, me concentrei ao máximo pra não deixar minha mente livre pra pensar em outra coisa.
Olhei no fim do monitor e vi que já eram 12:27, então desci pra almoçar. Meus pais já estavam na mesa almoçando. Me sentei e comi pouco, não estava com muita fome.
Almoçamos em silêncio e depois me deu sono.
– Pai, mãe, vou dormi, vejo vocês depois. – Falei me retirando.
– Ok filha. – Disse minha mãe e meu pai ao mesmo tempo. Subi e fui pro quarto, peguei o Ipod em cima da mesa do computador, coloquei os fones no ouvido e adormeci. Acordei com alguém batendo na porta.
– Pode entrar! – Gritei com uma voz fraca
Minha mãe abriu a porta e tava segurando o telefone na mão direita.
– Bia, é a Meg no telefone. Eu disse que você tava dormindo, mas ela insistiu.
– Não tem nada mãe, me dá o telefone? – Falei estendendo a mão pra pegá-lo. Minha mãe me deu e o coloquei no ouvido. Logo após ela saiu e fechou a porta.
– Oi Meg
– Oi Bia, você precisa me ajudar... Sabe aquele vestido que comprei pra ir? Ele fica marcando um pneu meu aqui do lado esquerdo, não vai dá pra eu ir com ele, me ajuda, não tenho roupa!
–Meg, você não tem pneu e você sabe. Eu sei que você não ligou pra falar isso, você se acha linda e gostosa, e é na verdade. Então... pra quê foi?
– Hum... er... Realmente eu não liguei pra falar isso. Mas...
– Mas nada. Fala logo.
– É que eu queria pedir desculpas pelo Gabriel. Eu sei que ele foi rude com você ontem, e também sei que você ficou magoada.
– Ah Meg, não foi nada, já passou. E ele vem hoje? – Perguntei com certa timidez.
– Bia, ele disse que não quer ir, mas com Meg por perto nada é impossível, vou fazê-lo ir pra sua felicidade. – Falou Meg rindo
– Sua convencida! E isso não seria bem uma felicidade pra mim, só alguém mais na festa. – Menti, ele seria a atração principal, pelo menos pra mim.
– Ah ta, Ana Beatrice. Então vou dizer a ele pra ficar por aqui mesmo.
– Não, não! Deixa ele vim... – Falei e logo em seguida tapei a boca, eu tinha acabado de me entregar.
– Ae, se entregou, cat. – Disse Meg rindo do outro lado da linha. – Bia agora tenho que desligar, já são 16:18, vou me arrumar, beijos.
– Outro. – Disse e depois desliguei o telefone o colocando em cima do criado-mudo ao lado da minha cama. Continuei deitada olhando o teto por alguns minutos. Depois me levantei e desci.Tinha parado de chover. Só estava nublado. Já estava tudo pronto. Fui até o salão de festas que ficava no jardim, ele estava todo cheio de mesas e em todas elas tinha um arranjo de flores lindas e coloridas. Na frente tinha uma mesa enorme, cheia de comidas. E no palquinho estavam uns caras afinando seus instrumentos. Então fui me arrumar, encontrei minha mãe na sala.
– Filha, vai se arrumar. Está quase na hora. – Falou
– Eu estava indo fazer isso, mãe. To subindo, tchau!
Fui tomar banho e peguei a roupa que tinha comprado ontem, tirei as etiquetas e vesti. Primeiro coloquei a blusa e a calça, depois moletom amarelo e o all star também amarelo. Eu não estava elegante, e eu sabia que esse jantar seria algo formal, e as pessoas viriam vestidas de acordo, mas eu pouco me importava pra isso.
Penteei o cabelo e o deixei solto. Passei um pouco de pó e lápis de olho, minha maquiagem básica de sempre. Desci e fiquei no sofá sem fazer nada, depois de alguns minutos desceu meu pai e minha mãe. Ela estava com um vestido vermelho longo reto, que prendia no pescoço, com pulseiras pratas brilhantes, um salto alto preto e segurando uma bolsa creme de mão que provavelmente não tinha nada dentro. Meu pai estava com um terno preto. Uma camisa branca por dentro e uma gravata azul.
– Bia, vamos lá pra fora esperar os convidados. – Disse meu pai
– Ok.
Me levantei e fui junto com eles até o salão de festas. Ficamos na frente e depois de alguns minutos os convidados começaram a chegar, eu os cumprimentava e dávamos um aperto de mão. Nas adolescentes filhas dos amigos dos meus pais eu cumprimentava dando um beijo na bochecha delas. Nos meninos eu apenas dava um aperto de mão e sorria.
Enfim, chegaram os convidados principais.

23 de julho de 2009

Parte 13

Meg abriu a porta e entrou, também entrei, mas muito devagar, quase parando. Notei que ele estava dormindo, me senti privilegiada por conseguir ver aquela cena. Era lindo, parecia um anjo. Seu rosto suave, seus olhos e boca fechados e seu cabelo completamente bagunçado. Ele estava coberto até o pescoço com um edredom, deitado de banda. Perfeito, sem defeitos. Assim Gabriel era pra mim.
Mas Meg passou em minha frente indo acordá-lo, acabando com o encanto.
– Gabriel, acorda! Oh Gabriel, acorda vai. – Chamava ela balançando-o.
– Hum? Que foi Meg? – Disse ele com a voz preguiçosa e abrindo os olhos. Não pude deixar de rir de tão nervosa que fiquei. Eu estava no quarto de Gabriel e ele estava acordando, logo me veria lá. Eu estava muito envergonhada, se houvesse uma forma de cavar um buraco e me enfiar lá dentro naquela mesma hora, eu o faria.
– Levanta, garoto! – Falou Meg puxando seu edredom.
– Tá Meg, tá. Tou levantando. – Disse ele.
Imediatamente abaixei a cabeça.
O vi sentando na cama e bagunçando o cabelo de Meg enquanto tentava abrir os olhos por completo. Levantei a cabeça quase sem querer e coloquei as mãos atrás das costas.
Ele me olhou e não desviou os olhos, não consegui desviar os meus dos deles também.
– O que você veio fazer aqui? – Ele perguntou confuso e grosso.
Realmente, eu não podia enfiar minha cabeça num buraco, mas podia sair pela porta, então foi isso que fiz. Um impulso de chorar veio à tona, mas eu não podia desmoronar ali, então fui cambaleando até o banheiro, passei água no rosto e enxuguei com uma toalha de rosto amarela que havia pendurada ao lado do espelho que ficava em cima da pia. Me olhei no espelho, e saí tentando aparentar estar normal, afinal não tinha sido nada demais, nem eu mesma entendia o motivo de estar assim.
– Viu o que você fez? – Escutei Meg gritando enquanto saía do quarto de Gabriel.
– Bia! Não liga, é o jeito dele. – Disse ela aparentando estar preocupada.
Tentei controlar minha voz antes de responder.
– Não foi nada Meg, não ligo. Tenho que ir agora.
– Vou com você.
– Não precisa, não precisa mesmo. – Falei tentando desesperadamente convencê-la que preferia ir só.
Ela pareceu entender.
– Então ta Bia.
A mãe de Meg ainda estava na sala assistindo tevê.
– Já vai? – Me perguntou enquanto pegava minha sacola com a roupa que tinha comprado no shopping em cima do sofá.
– Sim, boa noite. – Falei tentando ser agradável.
– Ok, nos vemos amanhã, tchau.
Meg já tinha aberto a porta, então saí e nos despedimos lá fora.
– A gente se ver amanhã no jantar. E fica bem! – Disse Meg.
– Nos veremos sim, e não há por que se preocupar, já te disse, não foi nada. Tchau!
Ela acenou com a cabeça e eu saí. Chorei todo o caminho pra casa enquanto pensava em Gabriel. Agora eu já podia afirmar que estava completamente apaixonada por ele, não havia mais dúvidas. Eu não queria sofrer, como estava sofrendo agora, mas o coração não escolhe por quem devemos nos apaixonar. E comigo aconteceu tudo tão rápido.
Chegando em casa joguei a sacola em meu guarda-roupa e fui logo deitar na cama, não fiz nada, só queria dormir, acho que só assim esqueceria que estava apaixonada e que iria sofrer mais do quê agora. Por uma pequena besteira, fiquei desse modo e não queria chorar mais por ele.
Eu não estava preparada...

21 de julho de 2009

Parte 12

Ela estava se olhando no espelho do bar que ficava no canto da sala.
– Meg, vamos! – Chamei, mas ela estava retocando seu gloss.
– Espera.
Em menos de 10 segundos Meg o guardou na bolsa e fomos até a frente de casa. O Sr Gonçalves já estava no carro esperando. Entramos, no decorrer do caminho Meg sempre dava uma olhada nos lugares pela janela e sempre comentando o como era bom estar de volta.
– Chegamos! – Falou o Sr Gonçalves
Então eu e Meg saímos do carro.
– Obrigada. – FaleiMeg parou e ficou olhando o shopping.
– Tá grande, hein? – Disse ela ainda olhando o shopping.
– Impressão sua, Meg. Tá do mesmo jeito de sempre.
Entramos no shopping e Meg me puxou pra primeira vitrine que viu, era um casaco todo preto liso, um vestido branco tomara que caia com muito pouco decote com babados na parte da saia com algumas listras pretas na parte do busto e da barriga e uma sapatilha branca com um laço de bolinhas pretas, o modelo apesar de ser muito lindo não combinaria nada comigo e sim com Meg.
– Nossa, que linda! Vem que eu preciso provar. – Disse Meg já entrando na loja. Entrei junto.
Enquanto Meg falava com uma funcionária da loja pedindo pra moça pegar a roupa e lhe indicar o provador, eu olhava algumas roupas pra mim.
Gostei de um modelo que tinha numa manequim, uma calça jeans preta, uma blusa meia bata branca com uma estampa preta de uma mulher fazendo uma pose que não entendi bem qual era, e suas costas era estilo nadador, um all star amarelo simples e um moletom todo amarelo com bolsos. Olhei se era meu número e resolvi comprar, ao contrário de Meg não gostava de provar roupas. Peguei a roupa e fui ao caixa. Tinha uma fila de mais ou menos quatro pessoas, tirei minha carteira da bolsa e peguei meu cartão de crédito que há tempos não usava. Chegou minha vez, paguei, a mulher me deu duas sacolas, uma com a roupa e outra com o calçado, logo após fui procurar Meg. Vi ela saindo do provador com o vestido e a sapatilha da vitrine em uma mão e duas calças na outra. Então fui até ela.
– Bia, o que você comprou? – Falou ela surpresa.
– Uma roupa pra vestir amanhã na festa. Em casa eu te mostro.
– Tá. Vamos comigo pagar minhas roupas.
– Ok.
Esperei Meg pagar e depois saímos da loja. Passamos em mais duas lojas pra ela olhar se gostava de algo, mas não se agradou.
– Bia, que tal um Milk Shake? – Falou Meg olhando uma garota que estava com um sorvete na mão.
– Boa idéia! – Falei animada, fazia tempo que não tomava um Milk Shake.
Estávamos em frente ao McDonald’s então compramos lá mesmo, Meg comprou um de baunilha e comprei um de chocolate. Sentamos em uma mesa de quatro cadeiras, e pras outras duas cadeiras não ficarem vagas colocamos as bolsas nela. Meg foi rápida, tomando tudo em praticamente três goles: começo, meio e fim e fazendo barulho com o canudo. Foi engraçado. Meg se levantou pra ir comprar outro.
– Quer outro? – Me perguntou.
– Não precisa. Estou me satisfazendo com esse.
– Então ta.
Ela foi até o Mc e depois voltou com outro na mão, de chocolate.
– Por que chocolate agora? – Perguntei acabando o meu.
– Sei lá, olhei o teu e deu vontade. – Respondeu ela dando de ombros. – Bia que horas?
Olhei em minha pulseira-relógio.
– Quatro e vinte e sete. – Respondi.
– Temos que ir então. Prometi pro Gabriel que voltaria cedo. Não quero deixar ele só, está meio gripado.
– Oh sim, vamos. – Falei e pareceu que o Milk Shake fez efeito, mas não... Eram as borboletas voltando a atacar. Então me lembrei de antes de vim pra cá, aquele jeito dele olhando pra tevê como um bobo.
Nos levantamos e fomos até a saída do shopping, e logo avistamos um táxi parado em frente.
– Tá livre? – Perguntou Meg.
– Sim, podem entrar. Pra onde vocês vão?
– Vai pra tua ou pra minha casa? – Perguntei olhando pra Meg.
– Ah, vamos à minha. Depois te deixo em casa.
– Então ta. Bairro Bela Vista, Rua Artur Rocha. – Falei ao moço do táxi.
Entramos no carro e o caminho todo Meg falou sobre a festa de amanhã. Eu não sabia bem que tipo de festa seria, então não poderia responder as perguntas que ela fazia.
– Qual é a casa? – Perguntou ele e percebi que já estávamos na rua da casa de Meg.
– Naquela que ta com o carro prata na frente. – Respondeu ela
Ele parou em frente ao carro prata e descemos. Paguei a partida enquanto Meg abria a porta de casa.
– Ah, minha mãe ta em casa! – Gritou Meg correndo pra dentro.
Entrei e fechei a porta. Meg estava no colo de sua mãe enchendo ela de beijos então sentei no outro sofá e fiquei rindo, ela parecia uma criança de apenas cinco anos.
– Oi, Sr Cecília – Falei.
– Olá, Bia. Se divertiram?
– Claro, mãe. – Meg respondeu por mim quando eu já estava abrindo a boca pra responder, então me calei.
– Liguei pra sua mãe e perguntei a hora da festa de amanhã, ela disse que seria um jantar, a partir das seis da noite.
– Ah, nem eu estava sabendo. Então já está tudo certo, não é? – Falei.
– Sim.
– Mãe, cadê Gabriel? – Perguntou Meg.
– Quando cheguei, não o vi. Então fui ao seu quarto e ele estava deitado na cama segurando o travesseiro com os braços esticados e estava meio pensativo, acho que nem reparou quando abri a porta de seu quarto.
– Ah, então vou lá falar com ele. Vamos comigo, Bia?
– Eu? Ir com você? No quarto do Gabriel? – Fiz as perguntas pausando.
– Sim – Falou ela me puxando em direção ao quarto dele.

19 de julho de 2009

Parte 11

– Espera! Não, não muda, deixa aí. Que legal Bob Burnquist. – Falou ele quase gritando, super animado e indo sentar no outro sofá. – Ele nunca mais apareceu na televisão. Ah eu te amo, cara. – Disse apontando pra tevê.
– Gabriel? – Olhei pra ele assustada e feliz. Não esperava encontrar ele em casa. Ele não me respondeu, estava entusiasmado demais com o cara da tevê para conseguir me notar, ele murmurava coisas como “você é o cara”, “quando crescer serei igual a você”, “te amo demais”, “você é minha inspiração” sempre olhando pra tevê. Eu nem estava prestando atenção na reportagem, só olhava Gabriel, então resolvi vê quem era o deus dele. Vi um cara moreno, bonito, que estava com um capacete e um skate na mão, todo suado. Então lembrei que nas vezes que trombei com Gabriel ele estava com skate, ou seja, aquele esporte deveria ser sua paixão.
– Droga! Mas já acabou? Ah, assim não dá. – Murmurou Gabriel. – Porque tu não me chamou antes? – Falou ele percebendo quem estava na sala. – Beatrice? – Falou ele no mesmo tom de quando o vi entrando na sala, a mais ou menos 7 minutos atrás.
– Hã? Eu? – Falei sem graça. – Oi.
Ele abaixou a cabeça.
– Er, vou almoçar, estou com muita fome. – Falou ele. – Então, é. É isso, tchau.
Ele se retirou da sala e várias borboletas se manifestaram em meu estômago que nem consegui responder, mas acho que também era fome.
Continuei lá, olhando pra tevê sem nem perceber o que tava passando, depois de alguns minutos Meg chegou. Ela estava muito linda, estava com o cabelo em um rabo de cavalo, uma blusa preta com letras pratas de manga curta com um ombro caído, uma calça jeans clara e uma bota preta perfeita.
– Demorei?
– Nem percebi. – Falei sorrindo.
– Então... Vamos almoçar? Estou morrendo de fome. – Disse Meg.
– Sim vamos, também acho que estou.
Fomos até a sala de jantar, e Gabriel estava fazendo a mesa de bateria e o garfo e a faca de baqueta, batendo de leve, mas dava pra escutar, e fazendo sons com a boca. Provavelmente já tinha almoçado, pois havia um prato com restos de comida ao seu lado e um copo com suco pela metade. Ele nos olhou e ainda continuou batendo. Por que Gabriel conseguia me deixar tão atraída por ele?
– Mas Gabriel, por que não nos esperou pra almoçar? – Disse Meg.
– Ah Meg, e eu lá sabia que vocês iriam almoçar aqui. – Falou ele parando de bater e se levantando da cadeira. – Vou descansar um pouco, bom apetite. – Falou ele passando por Meg e saindo.
– Ele ta estranho. – Falou olhando pra trás. – Percebeu? – Ela olhou pra mim, me perguntando.
– Ah sim, Meg. Percebi. Não sou eu que sou prima dele e convivo com ele todos os dias? – Ironizei.
– Ai garota, só foi uma pergunta. Esse estresse é a fome, vamos comer logo.
– Desculpa Meg, realmente, deve ser fome. – Falei já indo em direção a mesa.
Nos servimos e comemos. Acabei e Meg ainda continuou a comer. Fiquei esperando, Meg não demorou muito. Fomos lavar as mãos e Meg não enxugou as mãos com o pano na forma adequada, e sim em sua blusa. E me lembrei de algo, tinha esquecido de pegar minha bolsa.
– Meg, antes de irmos vamos passar em minha casa, esqueci minha bolsa.
– Sem problemas, vamos.
Primeiro fomos até seu quarto e ela pegou uma bolsa de ombro marrom daquelas grandes.
E depois fomos até minha casa, ela ficou esperando na sala enquanto eu fui até meu quarto e peguei a bolsa.
– Rápida você. – Falou Meg.
Dei um sorriso.
– Espera Meg, vou até ali a garagem perguntar se o Sr Gonçalves nos leva, não quero ir até o ponto de táxis.
– Quem é esse?
– O motorista daqui de casa. – Respondi.
– Ok, vai logo que eu não quero voltar tarde.
Fui até a garagem, ele estava encostado no carro fumando. Eu odiava cheiro de cigarro.
– Sr Gonçalves, você poderia levar eu e minha amiga ao shopping?
– Tá, claro que sim. Afinal, é o meu serviço.
– Espera, pode ir tirando o carro, vou chamá-la.
Ele acenou com a cabeça e entrou no carro. Fui até a sala e chamei Meg.

Parte 1O

Bem, não sabia me dá essa resposta, talvez Meg poderia estar certa e talvez não, mas eu sabia que estava sentindo algo por Gabriel, é como se fosse algo inédito, eu nunca me senti atraída por alguém antes, mas ele me deixava completamente boba. Eu estava com muito sono, mas primeiro fiquei pensando em uma resposta pro meu coração, mas cheguei a conclusão que só o tempo poderá decidir o que realmente sinto por ele. Dois encontros, duas brigas, ele me odiou, e pensei, mesmo que Meg estivesse certa, eu não queria sofrer por “amor não correspondido”. Gabriel nem me olhou direito, muito menos se apaixonaria por mim. Ridícula, isso que eu sou, como cheguei a pensar que ele poderia se apaixonar por mim? Isso nunca aconteceria pelo fato dele simplesmente me detestar. A última coisa que pensei antes de dormi, foi em ser simpatia com Gabriel como Meg disse.

Acordei com o sol em meu rosto e a voz de Meg, cheguei até a pensar que isso era um sonho. Mas não. Meg estava lá realmente, me puxando pelos pés.

– Bom dia, Bia! – Gritava ela! – Já está na hora de levantar, vamos, vamos! Levanta dessa cama.

– Meg você dormiu debaixo da cama ou dentro do armário pra estar aqui esta hora?

– Bia, já são 11:13 e já passou da hora de levantar a muito tempo, sua preguiçosa! – Falou ela olhando no relógio-pulseira que estava em seu pulso.

– Você não falou que iria ligar?

– Sim, liguei. Mas falaram que você estava dormindo então vim te acordar.

– Ok Meg, estou me levantando, espera.

Fechei meus olhos e coloquei a colcha em meu rosto.

– Ah ta Bia, só você mesmo pra achar que eu vou te deixar dormir. – Falou ela me chacoalhando.

– Ok, Meg. Você venceu! – Falei num tom preguiçoso e me levantei indo direto ao armário pegar uma roupa pra ir ao banheiro tomar banho.

Saí do banheiro já pronta.

– Bia, que mal gosto! – Falou Meg impressionada.

– Que foi?

– Olha a tua roupa! – Falou ela me olhando dos pés a cabeça.

Não vi nenhum problema, eu estava vestida com uma blusa baby look preta e uma calça jeans preta. O único problema que vi era que eu ainda estava descalça.

– Ah Meg, não se preocupa, vou calçar um tênis.

– Bia, você parece que vai a um enterro. Tira já essa roupa! Ou troca pelo menos a blusa.

– Ok, editora de moda. – Falei, peguei uma blusa branca com estampa colorida e vesti-la.

– Bem melhor. – Disse Meg.

Olhei e não vi diferença alguma, dei de ombros.

– Lembra que você disse que ia marcar algo? Pensou em algo? – Perguntei.

– Sim, pensei no shopping, faz teeeempo que não vou lá e pensei em almoçarmos em minha casa, que tal?

Naquele momento ignorei e shopping e pensei na casa de Meg, ou seja, Gabriel. Mas provavelmente ele não estaria lá.

– Ok, ótima idéia. Almoçamos na sua casa e depois vamos ao shopping. – Falei.

Coloquei um tênis e descemos as escadas. Ou melhor, eu desci a escada, Meg descia um degrau no corrimão e um degrau na escada, mas no ultimo degrau levou uma topada que pensei que ela ia meter a cara no chão. Ri alto.

– Nossa, Bia. Não ri de mim, eu poderia meter a cabeça no chão e estar sangrando muito agora, além das possibilidades disto me levar a morte. – Falou Meg exageradamente.

Continuei rindo.

– Meg, você ainda não é a mulher maravilha, conforme-se.

– Ah ta, mas quem sabe um dia eu não serei?

– Chega de ficção, vamos! – Falei.

Meg passou o caminho falando sobre as roupas que ela gostaria de comprar no shopping, segundo ela não tinha roupa nenhuma em casa, mas eu tinha certeza que seu guarda-roupa estava lotado. Ela nunca se conformava com o que tinha.

Chegamos e entrei analisando todos os passos que dava, não queria levar outro tombo, então sentei no sofá.

– Bia, me espera tomar banho, ou vamos logo almoçar?

– Não Meg, vai tomar banho que eu te espero. Não to com muita fome.

– Então ta, não demoro.

Ela se retirou da sala e eu liguei a tevê, tava passando uma entrevista com um cara lá que não sabia quem era, peguei o controle pra mudar de canal mas logo assim que peguei escutei aquela voz que eu mais queria escutar.

3 de julho de 2009

Parte 9

Talvez fossem alucinações. Não, claro que era ele. O garoto mal educado e idiota, tão lindo que me deixava hipnotizava, não conseguia desviar os olhos dele nem falar nada. Meg e ele se abaixaram.
– Você ta bem? – Perguntou Meg, ainda rindo, mas preocupada.
Não respondi, ainda estava em choque admirando os mínimos detalhes do rosto dele. Seu cabelo de lado que eu ainda tentava definir a cor, sua pele macia, seus olhos de uma pessoa que sofreu, seus lábios rosados, entre outros detalhes perfeitos.
Escutei uma gargalhada, mas agora não era a de Meg, era dele. Com o sorriso perfeito.
– Bia, você ta bem? – Perguntou Meg novamente, dessa vez mais preocupada.
– A segunda vez. – Falei baixo, apenas pensando alto.
– Hã? – Perguntou Meg confusa.
– Ela disse: A segunda vez. – Falou o garoto.
– Sim. – Falei.
– A segunda vez do quê? – Perguntou Meg, agora muito confusa.
– Queda. – Respondi.
– Ah, depois você me explica. – Falou Meg e em seguida escutei uma risada dele novamente.
Senti uma mão tocando a minha fazendo esforço pra me levantar. Pensei que fosse Meg, mas quando olhei, era um príncipe, não uma princesa. Estaria eu sonhando?
– Desculpa, vem que eu te levanto. – Falou ele.
– Você conheceu a educação? Nossa! E aí, ela é legal? – Falei ironizando, devido a ultima vez ele ter me tratado igual a um cavalo.
Na mesma hora que falei, imediatamente ele soltou minha mão me deixando cair de bunda.
– Sim conheci. Pensei que você tinha ido à ótica comprar seus óculos e já estivesse usando-os, daí a culpa seria minha, mas percebi que você continua com problemas na visão. – Falou ele retribuindo minha ironia. – Tchau Meg, e guia a garota, ou ela pode levar outro tombo no caminho. – Continuou ele tentando me irritar.
– Tchau pra você também, boa noite e sonhe comigo! – Gritei quando ele já estava dobrando o corredor da sala pros quartos.
– Claro, meus pesadelos ficam pior a cada dia! – Gritou ele de volta.
Continuei sentada, pensando em como sou idiota, eu devia ter deixado ele me levantar.
– Droga! – Falei irritada.
– Chega de delirar e se levanta, Bia. – Falou Meg me ajudando a levantar.
Me levantei e respirei fundo. Depois olhei pra trás pra ver se ele ainda estava lá, mas ele não estava.
– Vamos? – Falei.
– Definitivamente, vamos! – Respondeu Meg. Saímos da casa dela e fomos andando devagar.
– Vocês já se conheciam? – Perguntou ela confusa.
– Ele é seu primo? – Perguntei sabendo a resposta.
– Sim, mas me responde o que eu te perguntei. – Falou Meg.
– Mais ou menos. Ele já tinha me derrubado no dia que você chegou de viagem antes de você ir à minha casa. – Respondi.
– Hum. Você precisava ver sua cara de boba olhando pra ele! – Falou Meg rindo. – Sim, ele é lindo, mas dava pra disfarçar um pouco. – Falou ela.
– Lindo? Não acho isso tudo. – Menti. – Só fico impressionada com a educação que ele tem. – Acrescentei.
– Ah Bia, ele não é mal educado, ele só é meio fechado por causa da morte de seus pais. – Explicou ela.
– Eu sei, mas isso não explica sua má educação. – Falei irritada.
– Deixa ele! E faça sua parte sendo mais gentil. – Disse Meg.
– Ok, tentarei. – Falei.
– Ódio e amor, amor e ódio, gosto disso. – Disse Meg num tom engraçado.
– Amor? Não pensei nisso. – Falei.
– A mim você não engana. – Falou Meg e depois deu uma risada maléfica.
– Ah Meg, para com isso. – Falei irritada.
– Ok, eu paro. – Falou Meg rindo.
Chegamos em minha casa.
– Vai entrar? – Perguntei.
– Não, falei aos meus pais que voltaria logo. Mas amanhã te ligo pra gente marcar algo. – Falou Meg.
– Então ta, boa noite. – Falei fechando o portão.
– Gabriel. – Falou Meg meio que cantando opera com o nome dele.
– Tchau Meg. – Falei.
E Meg saiu rindo.
Fui pro meu quarto, lembrei do blog e fui postar sobre meu dia, inclusive sobre o segundo tombo. Depois fiz tudo que tinha pra fazer antes de dormi e depois fui deitar. Fiquei pensando sobre o que Meg tinha dito, não era possível que eu estivesse apaixonada. Ou era?

2 de julho de 2009

Parte 8

Passei horas pra conseguir dormi, fiquei pensando em Meg, como foi ótima a volta dela. Depois pensei na história de seu primo, pensei como ele deve ser por ter perdido sua família, sua história é triste, tentei me imaginar sem meus pais com apenas 15 anos, eu não conseguiria viver, mesmo eles não sendo muito presente, mas o primo de Meg os perdeu pra sempre, ele não pode ter nem mais alguns minutos perto de seus pais, como um simples café da manhã.
Parei de pensar, precisava dormi, amanhã tinha que ajudar a Meg na arrumação de seu quarto. Mas me veio outra coisa em mente, a imagem do garoto mal educado, quando pensei nele dei um suspiro e dormi de repente, acho que estava com muito sono pra ter apagado tão rápido, mas meu cérebro precisava ver aquela última imagem em meus pensamentos antes de dormi.
Acordei muito tarde, já era hora do almoço fui ao banheiro fazer tudo que tinha pra ser feito, coloquei uma blusa sem mangas, o dia tava quente, uma bermuda, um tênis que já havia tempo que não usava, estava novo só um pouco mofado, mas usei assim mesmo e desci. Fui direto pra cozinha, estava com fome, coloquei no prato um pouco de cada coisa que tava sob a mesa. Comi rápido, tava ansiosa pra ver os pais e o primo de Meg. Olhei em meu relógio e já eram 13:32, escovei meus dentes e fui pra casa de Meg, meus passos estavam tão longos que parecia que eu estava correndo. Cheguei lá antes das 14:00. Apertei a campanhia uma única vez, Meg e seus pais logo abriram a porta.
– Já estávamos te esperando. Entra! – Disse Meg.
– Beatrice, quanto tempo! – Falou a Sr Cecília. – Como você está? – Perguntou.
– To bem. – Respondi e dei um sorriso tímido.
– E seus pais? – Perguntou o Sr Mauro.
– Também, só trabalhando muito. – Respondi. – Eles vão dá uma festa de Boas Vindas pra vocês no sábado, e fazem questão que vocês aceitem. – Continuei.
– Meg nos avisou, estaremos lá com certeza. – Falou o Sr Mauro.
– Que bom então, pelo menos eles deixam um pouco o trabalho e se divertem com os velhos amigos. – Falei.
– É. – Concordou ela. – Eu e Mauro vamos arrumar o resto da cozinha, fique com Meg. – Continuou e logo depois se retiraram. Assim que saíram Meg me puxou correndo pro seu quarto.
A casa de Meg parecia cenário de televisão de tão linda que era, não estava completamente arrumada, só faltava a cozinha e provavelmente o quarto de Meg. A casa era enorme, mas não tinha primeiro andar. Pela arrumação percebi que tinham mudado alguns móveis, mas as paredes, o teto e o chão eram do mesmo jeito.
Finalmente chegamos. Meg tinha mudado a cor das paredes de seu quarto, antigamente era rosa, com uma parede cor de pérola, agora estava todo roxo com o teto branco, e uma das paredes ela colocou vários posters de bandas, fotos dela com amigas e nossas quando éramos crianças, e outras que não prestei muito atenção. A cama dela era branca com tabaco, e estava forrada com uma colcha branca com letras chinesas pretas. Seu guarda-roupa não estava lá e tinha roupas, CDs e livros espalhados no chão. Só faltavam ser colocados em seus lugares.
– Nossa Meg, teu quarto ficou lindo, bem criativo, sua cara! – Falei impressionada.
– Bia, calma. Ainda nem arrumamos todo! – Falou Meg num ar engraçado.
– Gostei das fotos na parede. – Falei.
– É. Eu tenho várias fotos e resolvi tirá-las do álbum pra por na parede. Adoro fotos. – Disse Meg.
– Ficou muito bom. Não tenho costume de tirar fotos minhas. As vezes pego a câmera e bato fotos dos insetos que ficam no jardim e das flores. – Falei.
– Ah legal bia, mas quando acabarmos de arrumar aqui, vamos ao jardim tirar fotos juntas. Estão faltando fotos nossas crescidas aqui na parede. Só têm aquelas ali de nós crianças. – Disse Meg apontando as fotos que estavam no meio da parede.
– Ok, mas não me responsabilizo se tua câmera queimar com minha feiúra. – Falei.
– Você e suas ironias. – Disse Meg.
– Chega de conversar, vamos arrumar logo isso. – Falei.
– Ta, arruma a estante e eu vou dobrando as roupas, meu pai depois monta o guarda-roupa e eu coloco elas dentro dele. – Falou Meg.
Arrumei a estante organizando os livros e os CDs em suas prateleiras. Meg dobrou suas roupas que estavam no chão e colocou em cima de sua cama por conta de seu guarda-roupa ainda não está montado. Acabamos rápido.
– Trabalho comprido. – Disse Meg e batemos as mãos umas nas outras. – Vou pegar um lanche pra gente. – Falou ela e depois saiu do quarto correndo e pulando pra ir pegar. Incrível como ela era espevitada. Fiquei olhando as fotos de perto, vi algumas dela com algumas amigas que parecia ser na Itália, vi algumas nossas e fiquei rindo, eu era tão feinha que chegava a ser fofinha minha feiúra, os posters eram da Avril Lavigne, Paramore, Guns n’ roses, e mais alguns. Mas depois, vi uma foto que me chamou muito a atenção. Ela com o menino que me derrubou na poça de água, não sabia se era ele, acho que era só imaginação minha, ele não sai da minha cabeça mesmo. Ela abriu a porta e percebi que minha cabeça tava grudada na foto, tentando ver se era o garoto mesmo que provavelmente não era. Ela riu.
– Bia, ta tentando atravessar a parede? – Falou Meg rindo alto.
– Oh, não Meg, só tava olhando esse garoto. – Falei tentando explicar. – Quem é? – Perguntei.
– Ah, é meu primo, aquele sobre o qual te falei e disse que queria te apresentar, mas ele não está em casa. Ou melhor, ele nunca está em casa, sempre chega tarde e bate na porta do quarto pra conversar um pouco e depois vai dormir como. Como disse, mesmo um ano depois da morte de seus pais, ele ainda não se recuperou totalmente. – Disse Meg.
– Não liga, da próxima você me apresenta. – Falei. – Ele é muito bonito. – Continuei.
– Claro, meu primo. – Se gabou Meg piscando um olho pra mim.
Comemos biscoito e suco de laranja. Só tomei suco, não tava com fome. Meg comeu meus biscoitos e os delas. Deixamos os pratos e os copos em cima da mesa de seu computador e fomos pro jardim tirar fotos como Meg tinha dito. Tiramos fotos de várias formas, mas em todas dávamos um enorme sorriso.
Por volta das 17:30 entramos. Ficamos assistindo filme e comendo pipoca que a mãe de Meg preparou pra nós. Queriam me entupir de comida, eu sei que eu era muito magra, mas não precisava isso tudo, eu só não iria morrer de fome. Assistimos dois filmes, um de romance e um de terror. Pela duração dos filmes percebi que já estava tarde, o tempo com Meg passava rápido.
– Meg, tenho que ir, ta tarde. – Disse.
– Tem que ir mesmo? – Meg perguntou sabendo a resposta.
Acenei com a cabeça.
– Então ta. Te levo em casa. – Decidiu ela.
– Ok, mas tu vai voltar sozinha. – Falei tentando fazê-la desistir. Ela devia ta cansada.
– Sem problemas, vou avisar aos meus pais. – Insistiu ela.
– Manda beijos e boa noite pra eles.
– Certo madame. – Disse ela e foi até seus pais que estavam em alguma parte da casa. Percebi que ontem e hoje não deram pra matar a saudade, minha vontade era todas as horas do dia com Meg. Ela era muito divertida e tirava minha solidão.
Ela voltou.
– Deixaram e te mandaram beijos também. – Disse ela.
– Então ta, camon! – Falei e fomos em direção a porta. Cheguei primeiro, e abri a porta com a chave que já estava encaixada na porta, não tava conseguindo abrir. Quando menos espero, senti uma pancada em minha testa e caí no chão, fiquei zonza. Escutei a risada de Meg e olhei pra cima pra ver o que tinha empurrado a porta.
Fiquei em choque: ELE.

1 de julho de 2009

Parte 7

Não estava acreditando que minha melhor amiga que não via há 5 anos atrás estava na minha porta me abraçando. Meg e seus pais, o Sr Mauro Couto Martines e a Sr Cecília Couto Martines, tinham ido pra Itália, onde seu irmão e seus sobrinhos que moravam em Brasília foram pra lá há 7 anos. Mas não foi apenas por causa deles que se mudaram, o pai de Meg recebeu uma proposta de emprego muito melhor do que o que ele tinha aqui, ele é um ótimo médico. E a mãe dela é advogada, tinha seu próprio escritório aqui em POA.
Depois de alguns minutos paradas, Meg finalmente quebrou o silêncio.
– Não vai me convidar a entrar? – Perguntou-me.
– Cla-claro – gaguejei em choque. – Entra!
Levei-a até a sala e sentamos no sofá, ela se sentia em casa como nos velhos tempos, não sei se vou agir da mesma forma quando for em sua casa.
– Então Bia, como você ta? – Me perguntou.
– Nesses últimos anos nunca estive melhor que agora. – Respondi. – E você? – Perguntei em seguida.
– Eu to completamente ótima, e feliz por está de volta pro Brasil, a Itália era legal, mas eu senti muita falta de você e daqui, do meu lugar, da minha melhor amiga. – Meg respondeu. – Ah, e você ta muito linda, mais que antes, é impressionante. – Continuou ela.
– Obrigado. – Agradeci timidamente. Mas sabia que ela estava falando pra ser doce, Meg era muito gentil.
– Quero agradecer aos teus pais. – Falou Meg.
– Agradecer o quê? – Perguntei imediatamente.
– Por não ter te contado a verdade, eu queria fazer uma surpresa, então pedi pra eles te avisarem que eu só vinha amanhã. Na verdade eu liguei pra falar com você, mas eles atenderam, disseram que você já estava dormindo e me pediram pra te contar a notícia, então eu deixei. – Explicou.
– Você podia ter me matado de tanta felicidade. – Falei.
– Bia, felicidade não mata. – Disse ela sorrindo. Dei um sorriso também.
– Mas Meg, você ganhou um irmão? – Perguntei curiosa.
– Não. Por quê? – Perguntou. – Minha mãe fez laqueadura depois que me teve. – Continuou.
– Porque meus pais falaram que vocês tinham trazido mais alguém junto na família. – Respondi com a expressão confusa.
– Ah, trouxemos meu primo, Pietro Gabriel. – Explicou ela e no mesmo instante seus olhos encheram de lágrimas.
– O que aconteceu? Por que você está chorando? – Perguntei desesperada.
– Os pais dele, Cristina e Murilo Santorini Martines, e sua irmã, Gabriela S. Martines, morreram num acidente de carro, e ele ficou órfão, então meus pais trouxeram ele pra morar junto da gente, ele não tinha com quem ficar. – Respondeu ela enxugando as lágrimas que escorreram em seu rosto.
– Nossa Meg, lamento. – Falei espantada. – Você era muito ligada a eles? – Perguntei.
– Muito. Morávamos na mesma rua, e era bem legal morar perto deles, nós nos dávamos super bem, e eu me dava bem principalmente com a mãe de Gabriel. Costumava conversar com ela. – Falou Meg num tom triste.
– Então deve ter sido uma grande perda não só pra ele, mas pra você também. – Disse.
– Sim. Mas agora eu não estou triste, só me bateu saudades deles. – Afirmou Meg. – Mas então... Vamos atualizar tudo. O que fez nesses cinco anos? Fez amigas na escola? E os garotos?
– Meg, uma de cada vez, por favor. – Interrompi-a e ri.
– Ta, desculpa. – Ela respondeu e sorriu. Então respondi uma de cada vez.
– Esses cinco anos foram tediosos. Depois de você eu não tive mais amigas. – Respondi as duas primeiras perguntas. – E eu nunca tive um namorado. – Disse pausando e com vergonha. – Nunca nenhum menino tocou seus lábios nos meus. – Respondi com mais vergonha ainda.
Meg me olhou e percebeu que eu fiquei envergonhada ao responder a última pergunta.
– Ah amiga, que lindo, você nunca beijou, mas tudo tem sua primeira vez, talvez nunca tenha se apaixonado. – Falou Meg.
– Não, nunca. – Falei confusa.
Pensei pra mim mesma: Eu não tenho nem amigos, por quem iria me apaixonar?
Do nada me lembrei do estúpido garoto que me derrubou hoje à tarde.
– E você? O que fez na Itália? – Perguntei interessada.
– Quando cheguei era tudo legal, visitei vários lugares lindos, conheci algumas pessoas legais, e me apaixonei algumas vezes, mas nenhuma deu certo. – Falou Meg dando um engraçado sorriso.
Ri alto, Meg é impressionante.
Conversamos mais alguns instantes e meus pais chegaram, percebi que já estava tarde. Quando abriram a porta Meg voou em cima deles, abraçou minha mãe e meu pai, eles retribuíram o abraço com uma expressão assustada e engraçada no rosto.
– Meg, quanto tempo! – Falou minha mãe num tom alegre.
– Pois é, tia Elizabeth. – Falou Meg, chamando minha mãe de tia, como nos velhos tempos, ela era tão espontânea.
– Como estão seus pais? – Perguntou meu pai.
– Eles estão ótimos, iam dá uma passada aqui, mas deduziram que vocês estavam trabalhando e me deixou vir conversar com a Bia. – Respondeu Meg.
– Que bom. – Falou meu pai. – Fala pra eles que no sábado não vamos trabalhar pra nós organizarmos uma festa aqui de boas vindas. – Continuou ele.
– Nossa, que máximo! Eles vão adorar, tenho certeza. – Falou Meg super animada. – Mas nós podemos trazer meu primo, não é? – Perguntou Meg desconfiada.
– Claro que sim. – Respondeu minha mãe. – Ele é a pessoa que você disse que estavam trazendo? – Continuou.
– Sim. – Afirmou Meg.
– Então meninas, está na hora de vocês irem pra cama, não acham? Meg, quer que eu te leve em casa? – Perguntou ele.
– Não precisa, tio Miguel. Eu to com saudades de andar por aqui, então prefiro ir a pé, e minha casa fica aqui atrás, não tem perigo. – Falou Meg decidida.
– Então ta, cuidado menina, manda lembranças pros teus pais e digam que não podemos ir lá por causa do trabalho, mas no sábado eles têm que estar aqui. – Meus pais se retiraram e foram pra sala de jantar.
Levei Meg até a porta, e nos despedimos lá fora.
– Então, amanhã nos vemos de novo? Já está de férias? – Perguntou Meg.
– Estou. E claro que vamos nos ver, amanhã, depois de amanhã e todos os dias. – Respondi animada.
– Então ta. Tchau Bia, amanhã vai lá pra nós arrumarmos meu quarto, vai ser divertido. E eu aproveito pra te apresentar ao Gabriel. – Convidou-me.
– Ok, estarei lá por volta das 14:00. – Confirmei.
Ela deu tchau com a mão e saiu. Fui pro meu quarto, coloquei o pijama e fui deitar. Não tinha como estar mais feliz.

30 de junho de 2009

Parte 5 e 6

À noite eu fiquei esperando meus pais, não em meu quarto, na sala vendo TV. Por volta das 23:30 eles chegaram. Dei um pulo do sofá e entreguei rapidamente meu boletim a eles.
– Parabéns – Minha mãe falou com uma voz agradável.
– Muito bem, filha. Estou orgulhoso de você, continue assim. – Disse meu pai com um tom baixo e feliz. Jantamos juntos. Depois minha mãe falou que eles tinham algo a dizer.
– Lembra da Meg? – Perguntou-me meu pai, dando um sorriso de lado pra minha mãe.
– Sim – respondi.
– Então, na semana passada ela ligou aqui pra casa a noite, mas você já estava dormindo... – Ele pausou esperando que eu respondesse algo, mas eu apenas fiquei ouvindo, nunca mais tinha recebido notícias dela.
– Bom, ela falou que daqui a dois dias, ela e os pais dela voltam a morar aqui na cidade, na mesma casa de antes. E pedimos que ela nos deixasse te dá à notícia. – Continuou ele.
– Tão de brincadeira comigo? – Falei num tom elevado de felicidade.
– Não filha, é verdade. – Minha mãe disse com uma voz doce. – Ela também disse que vinham com alguém mais na família. – Continuou ela.
Quando Meg foi embora ela era filha única assim como eu, me perguntei se os pais dela tinham tido algum filho. Mas o importante era que minha amiga estava voltando. Eu não conseguia explicar o quão feliz eu estava, não existem palavras que expliquem. Meg foi a única pessoa que tornava meus dias divertidos.
– Ficamos muito felizes com essa notícia, não só porque os pais delas são nossos amigos. Mas também porque depois que Meg se foi você anda muito só. Nós trabalhamos muito e acabamos não te dando tanta atenção, e com a volta dela você terá com quem conversar e se divertir. – Falou minha mãe e logo em seguida pediu pra eu subir pro quarto, porque já estava tarde.
– Boa noite – Desejei-lhes. Depois fui pro meu quarto, escovei os dentes, coloquei o pijama e dormi. Eu tava tão feliz que acabei sonhando com eu e ela brincando juntas na piscina quando éramos crianças.
Tentei acordar cedo pra conseguir tomar café da manhã com meus pais, mas gosto de me acordar um pouco tarde nas férias e nos fins de semana. Desci correndo, mas já era 9:50, não quis tomar café, perdi o apetite. Subi e tomei meu banho, não parava de pensar na volta de Meg. Liguei o computador e fiquei jogando GTA, não consegui me concentrar no jogo, só estava perdendo e eu odeio perder. Então resolvi entrar no meu blog que não mexia a anos, ele me servia como um diário, lá eu desabafava um pouco. Digitei o endereço do email e a senha. O email era meus dois primeiros nomes, e a senha minha data de nascimento, bem óbvio. Comecei a postar, mas dessa vez eu não queria abandoná-lo novamente. Falei sobre a volta da Meg, afinal, eu não pensava em nada além disto. Cansei do computador e resolvi escutar música, escutei a metade de “Stupid Girls - Pink”, mas eu tava tão ansiosa que não conseguia ficar sentada, deitada, ou melhor, em casa. Coloquei um tênis e um casaco enorme que cobria minhas mãos e saí de casa super fashion (ironia), não sabia meu destino.
Andei pelas ruas com as mãos nos bolsos e olhando pra baixo. Resolvi ir tomar um chocolate quente, quando tava dobrando a esquina da rua da lanchonete, senti um empurrão, e caí numa poça de água. Levantei o rosto pra ver quem tinha feito aquele absurdo, me deparei com um garoto segurando um skate, ele tinha o cabelo de lado liso, de uma cor diferente, não sei se é loiro, castanho claro ou mechas das duas cores, com a pele branca, mas não muito, ele tinha cor. Até que era gatinho, ou melhor, SUPER gatão. Mas o que tinha de lindo, tinha de mal educado. Como pôde fazer aquilo com uma garota?
– Olha por onde anda, garota. – Disse ele com uma voz alterada e grosseira.
– Tudo bem, amanhã irei à ótica comprar um óculos por tua causa. – Respondi-o com sarcasmo e dei uma piscadela. Ele olhou com cara feia e saiu no skate. Continuei lá sentada olhando-o até ele dobrar a esquina no fim da rua e ficar fora de minha vista.
Mas que viadinho, além de me derrubar e não me ajudar a levantar, falou grosseiramente comigo.
Me levantei toda molhada e fui pra casa murmurando. Quando cheguei fui tomar banho quente, coloquei um agasalho, uma calça de dormir e fui comer algo, a caminhada me deixou esfomeada. Peguei uma fatia do bolo que tava na mesa, coloquei no prato, depois peguei refrigerante na geladeira e levei pra sala pra comer assistindo TV, tava passando algo sobre esportes, mas eu não prestava atenção, agora só conseguia pensar em duas coisas: A volta de Meg e no menino grosso e lindo. Agora além de contar as horas pra ver Meg, to contando as horas pra esbarrar com ele novamente, mesmo ele sendo idiota, grosso, imaturo, mal educado, etc, meus olhos gostaram de observá-lo. Depois que comi, coloquei o prato na pia, e a latinha do refrigerante no lixo. Eu tava com vontade de ir lá pro jardim relembrar meus tempos de criança com Meg, mas estava muito frio. Então subi pro quarto dos meus pais, fiquei olhando as roupas da minha mãe, ela era tão elegante. Me perdi no tempo, e quando saí do quarto já havia escurecido, desci as escadas pra pegar um livro no escritório do meu pai, lá tem alguns livros legais. A campanhia tocou. Estranho, porque meus pais mal recebem visitas aqui, as vezes recebem nos fins de semanas mas só quando não viajam à negócios e eu não tenho amizades pra receber visitas, que eu saiba Meg só volta amanhã, cheguei até a pensar que era o menino que trombou comigo hoje a tarde, mas era impossível ele não sabia onde eu moro, e me odiou, fui abrir a porta. A campanhia tocou mais e mais vezes.
– Já vai! – Gritei. Quando abri a porta fiquei em choque, Meg Couto Martines estava de volta, na minha frente, incrível que ela não mudou nada, só ficou ainda mais linda. Ela estava mais ou menos da minha altura, um pouco mais baixa, os cabelos castanhos e magra, mas não desnutrida como eu. Ela abriu um sorriso e automaticamente eu também abri um, de um olho ao outro. Ela me abraçou e ficamos no mesmo lugar em silêncio. Lágrimas de felicidades caíram em meu rosto.