30 de novembro de 2009

Parte 23

Nossos olhares se encontraram e ele percebeu as lágrimas que escorriam de mim. Eu não podia ficar ali parada, enquanto ele via meu sofrimento, enquanto ele via que eu estava chorando por ele. Corri empurrando todas as pessoas que estavam à minha frente e conseqüentemente recebendo vários xingamentos, que pouco me importava. Entrei no banheiro do colégio que ficava no pátio. Pra minha sorte só havia uma garota da minha idade ajeitando o cabelo no espelho e quando me viu chorando, saiu. Apoiei minhas mãos no balcão da pia e olhei meu reflexo no espelho, continuei a chorar sem pensar em mais nada, apenas nele, meus pensamentos foram tomados por ele, naquele momento tudo em mim era ele, tudo em mim era dele, somente dele. Então eu desabei, não segurei o choro, meus soluços eram cada vez mais altos e eu não me importava se alguém entrasse ali e visse, eu estava acabada e pouco importava o que achariam disso, e o que pensariam. O que importava era apenas ele, e mais ninguém.
O sinal tocou. Sequei minhas lágrimas e esperei meu rosto voltar ao normal. Subi as escadas com pressa e fui enfrentar todas aquelas pessoas, todas aquelas conversas, tudo, tudo aquilo, quando o que eu precisava era apenas estar só. O professor ainda não tinha chegado à sala, acho que não fui a única a se atrasar, olhei a sala e Meg não estava lá. Sentei-me na ultima banca como de costume e logo após vi Meg, ela parecia estar procurando alguém. Seus olhos focaram em mim e acho que ela tinha encontrado quem procurava. Ela sentou-se ao meu lado, na fila após a minha.
– O que aconteceu? Por que você saiu chorando correndo como uma louca? – Ela perguntou.
Eu não tinha voz pra falar, eu apenas abri o caderno e olhei pra folha, eu não queria falar sobre aquilo, eu queria ficar só. Apenas isso, será que nem ela me entenderia? Acho que entendeu, porque respondeu um simples “Tudo bem” e passou a mão no meu cabelo.
Me levantei, eu não podia passar mais um minuto ali. Meg se levantou pra ir atrás de mim. Olhei pra ela de uma forma que a alertasse para não me seguir.
Corri pro jardim que ficava atrás da escola sem pedi permissão ao professor que tinha acabado de entrar na sala.
Ali era lindo, e o sol que estava iluminando a paisagem, fazia ficar mais perfeito. Sentei-me no banco que ficava no fim do jardim, abracei minhas pernas, abaixei a cabeça e desejei morrer.
– Oi. – Ouvi uma voz dizer. Não, não era qualquer voz. Era a voz dele.
Levantei a cabeça e ele estava sentando-se ao meu lado. Eu tentei forçar minha voz sair pra respondê-lo, mas não saía nada. Apenas o olhei confusa.
Ele levantou as sobrancelhas.
– O que tá acontecendo? – Ele perguntou e eu não respondi novamente.
Suas mãos se levantaram e ele colocou uma mecha do meu cabelo que estava solta, e colocou atrás de minha orelha.
– Tudo bem. Não precisa falar nada.
Minha boca se formou num sorriso fraco.
– Vem cá. – Ele falou me deitando em seu colo.
Suas mãos percorriam meu cabelo e as maçãs de minhas bochechas, me confortando e me deixando mais calma. Eu apenas sentia seu toque, o mais leve, mais delicado, e o mais desejado por minha pele. Eu não conseguia desviar meu olhar de seu rosto enquanto ele levantava a cabeça deixando sua pele ser clareada pelo sol, seus cabelos ficando mais claro e balançando conforme o vento que batia.
Levantei minha cabeça de seu colo e ficamos nos olhando por um tempo.
– Obrigado. – Finalmente eu consegui falar, com a voz trêmula, mas era um avanço.
– Poderia me dizer por que o agradecimento? – Ele falou acariciando meu rosto delicadamente com a ponta de seus dedos.
– Por ter me acalmado. Por ser você.
Ele me abraçou e eu deitei minha cabeça em seu ombro.
– Eu to aqui. – Ele disse
– Eu sei. E é só disso que eu preciso. – Forcei as palavras a saírem.
Seu abraço era tão confortante, eu me sentia inteira, bem, poderia até dizer amada. Eu sentia a calma que vinha dele, e minha agitação de antes tinha ido embora. Aquele abraço durou até que o sinal tocou.
– Acho que devo ir pra aula. – Falei soltando ele.
– Acho que você deve ir pra casa. – Ele desafiou.
– E por qual motivo eu explicaria minha saída?
– Enjôo.
– E aí pensariam que eu estou grávida? Melhor não.
Nós rimos. E era tão bom rir de novo.
– Dor de cabeça?
– Eles me dariam remédio e mandariam esperar passar.
– Disenteria?
– E aí todos criariam piadinhas engraçadas sobre mim.
– Sabe? Você é complicada demais. Vai pra aula mesmo! – Ele falou fingindo está irritado.
– Isso que vou fazer agora. Tchau. – Falei me levantando.
Ele segurou minha mão.
– Espera. – Ele disse se levantando também.
Nós dois colocamos um sorriso no rosto e ele me levou até minha sala de aula. Eu me sentia tão bem. E feliz. Feliz por completa, como nunca.

29 de novembro de 2009

Parte 22

Os dias se passaram. Muito raramente eu via Gabriel saindo de casa, ou chegando, mas não nos falávamos, o olhar dele era como o de quando ele me pediu desculpas, um olhar com culpa e dor. Eu e Meg passávamos todos os dias juntas de alguma forma. Eu me divertia quando estava com ela, e até me pergunto como eu fiz pra conseguir viver sem sua companhia esses anos todos, agora eu tinha uma vida, não como a das pessoas normais, mas eu sentia que algo em mim estava aceso. E eu, querendo ou não, isso não era culpa apenas da amizade de Meg, tinha muito do Gabriel na chama da minha vida.
Finalmente tinha chegado o dia de o inferno começar novamente. Era o fim de minhas férias e eu tinha começado o dia na rotina que eu tinha de segunda à sexta.
Depois do café da manhã com meus pais, fui pro jardim esperar Meg chegar, a partir de hoje eu não iria mais com minha bicicleta pensando em como minha vida é monótona, agora eu iria com uma tagalera. Me sentei na grama e como sempre meus pensamentos invadiram minha mente, tantos pensamentos que eu mal conseguia saber o que tava pensando, tantas coisas. Nada envolvendo a escola, seria tudo como sempre. A novidade do semestre é que Meg voltaria a estudar comigo novamente, e isso até me animou um pouco. Além dela, tinha o Gabriel.
A campanhia tocou, só poderia ser ela, fui até a porta com meu material escolar.
– Bom dia – Ela disse.
– Meio difícil ter um bom dia quando tenho que freqüentar aquele departamento.
– Não fala assim, Bia. Comece a ver as pessoas de um jeito mais amigável.
– Ha-ha-ha. – Ri de forma irônica e ela revirou os olhos.
Na portaria do colégio foram as mesmas coisas de sempre, todo mundo contando as viagens que fizeram nas férias, as baladas que foram, os lugares lindos que visitaram, os caras ou as garotas que ficaram, tudo como sempre, as mesmas futilidades que por mais que não fossem as mesmas tinham o mesmo propósito: vida social. O que, praticamente, eu não tinha.
De repente, apenas os garotos continuaram falando, as meninas todas olhavam pra eu e Meg que estávamos paradas apenas observando aquelas inutilidades. Olhei pra trás pra me certificar que não era pra mim, porque afinal, todos já tinham decidido não forçar mais amizade comigo. Quando vi quem estava vindo atrás meu coração bateu tão forte que chegava a doer, pensei até que ele fosse pular de mim. Era Gabriel, tão lindo que eu tinha plena certeza de porque todos agora estavam em silêncio apenas olhando como seu cabelo balançava a cada passo leve que ele dava. Como suas bochechas ficaram vermelhas quando percebeu que todos olhavam para o novo aluno, como seu olhar baixo focando a rua era meigo, como aquele uniforme caía bem em seu corpo. Ou talvez, apenas olhavam o conjunto de todas as partes que lhe formavam, porque provavelmente ninguém o via como eu vejo. Ninguém ali estava se sentindo como eu, minhas pernas bambearam, e parecia que formigas e borboletas tinham atingido meu estômago e meu coração batia tão forte, tão acelerado a cada vez que via seus movimentos, seu rosto, a cada vez que eu o via. Elas apenas sentiam desejo, e não é que eu não sentia isso por ele, claro que eu sentia, ele era o que eu mais desejava pra mim, pra minha vida, e só de pensar naquele meu momento com ele, só em pensar na proximidade que ficamos, eu não sabia como eu podia sentir isso por ele, eu não conhecia que sentimento era aquele, porque eram tantos, tantas emoções, e depois daquele dia eu não conseguia mais olhar pra ele e não sentir dor por saber que aquilo não se repetiria, chegava a me doer fisicamente, o nó na minha garganta que sempre aparecia, agora estava começando a se formar de novo, isso doía. Quando dei por mim, uma lágrima estava caindo em meu rosto, todas as pessoas já estavam comentando sobre sua beleza e ele estava cumprimentando Meg com um “Oi” quando caí na realidade.

Parte 21

Meg me puxou me sentando na cama e sentou ao meu lado.
– O que você acha sobre o assunto? – Ela perguntou.
– Não sei.
– Como assim não sabe?
– Não sei Meg. Ainda to muito confusa, vou tentar absorver tudo isso primeiro. É muito pouco tempo, e isso já ta tão forte em mim, que eu não consigo mais mandar nas minhas próprias idéias.
Meg fez cara de confusa.
– Eu preferi não falar que você estava aqui. Ele poderia ficar mais irritado ao saber que você estava aqui e poderia está escutando.
– Tudo bem. Acho melhor irmos dormir agora.
– Nossa! O Gabriel estragou com nossa noite de garotas! – Falou Meg decepcionada.
– Desculpa. – Falei e dei um sorriso de leve.
Meg deitou, apaguei a luz e deitei também.
A recente recordação de sua voz falando todas aquelas coisas sobre mim invadiu meus pensamentos, e eu só conseguia pensar naquilo, sem nenhum objetivo, apenas tentei imaginar seu rosto e seus movimentos enquanto falava aquilo. Eu não queria me permitir a me iludir em relação a ele, mas era tão difícil.
Eu precisava beber um copo de água pra minha agitação parar. Me levantei e fui até à cozinha.
Já passava da meia noite e procurei não fazer barulho quando fui abrir a porta. Procurei o receptor e acendi a luz da cozinha. Peguei um copo de plástico dentro da gaveta do balcão e água na geladeira.
– Beatrice?
Me virei automaticamente quando escutei aquela voz. A voz dele. Quando percebi os poucos centímetros que nos separavam o copo caiu espalhando a água pelo chão.
Eu apenas fiquei olhando-o. Seu rosto espantado e confuso ao mesmo tempo. E ele estava com olheiras, não que elas conseguissem diminuir a beleza dele, mas o aparentava cansado. Sono, talvez.
– Você... Você aqui? – Ele perguntou com sua expressão ficando mais confusa.
– É. – Forcei a letra a sair da minha boca.
Ele olhou pro chão onde a água, e o copo estavam.
– Ah, é... Acho que tenho que limpar isso. – Falei.
Abaixei-me. E ele fez o mesmo. Nossas mãos tocaram o copo e se tocando ao mesmo tempo. Eu podia sentir sua respiração quente, e o toque de suas mãos nas minhas. Eu me sentia tão fraca com a batida forte que meu coração fazia, minhas pernas tremendo e eu achava que cairia ali mesmo. Nós nos olhamos e ele segurou minha outra mão me levantando junto a ele, nossos corpos estavam quase colados e nossas mãos apertando umas as outras. Nossos rostos foram lentamente puxados um contra o outro, seu olhar estava penetrando no meu e aquilo estava fazendo as coisas pularem dentro de mim, como se uma festa estivesse acontecendo no meu interior, se não fossem suas mãos segurando as minhas eu poderia está no chão como aquela água. Nossos lábios se encontraram e ele segurava minha mão com mais firmeza. Era meu primeiro beijo, e era com ele, com meu amor. Ele me beijava com delicadeza e eu não sentia vontade de parar, acho que ele também não porque demorou um pouco pra nós estarmos separados novamente.
– Desculpa. – Ele disse com uma expressão de algo que eu não sabia o que era, acho que dor, culpa. E saiu da cozinha em direção ao seu quarto.
Um nó se formou na minha garganta, os soluços começaram e as lágrimas caíram. Sim, eu chorei. Não porque não foi bom, e sim porque eu nunca mais teria aquilo novamente, eu nunca mais o teria tão perto, eu nunca mais sentiria aquela sensação, a melhor sensação que eu já tive em toda a minha vida. Não com ele.
Na manhã seguinte, mesmo tendo dormindo muito mal na madrugada anterior, eu acordei cedo na esperança de explicá-lo que não havia porque se desculpar, eu queria explicá-lo como tudo foi pra mim. Mas ele não estava em casa. Quando perguntei sobre ele à Meg ela falou que ele às vezes saia bem cedo pra andar pra espairecer um pouco.

27 de novembro de 2009

Parte 2O

– Oi mamãe, oi papai! – disse Meg fazendo voz de criança e pulando em cima deles.
– Oi filha! Ainda acordadas? – Disse o Senhor Mauro.
– Sim. Vamos dormir daqui a pouco. – Ela disse.
– Hum, então vamos jantar e depois vamos pra cama. Vocês já deveriam ir, não? – Disse a mãe de Meg.
– Sim! Vamos agora – Eu disse.
– Ah, Oi Bia! Boa noite. – Disse a Sra Cecilia.
– Boa noite pra vocês. – Falei.
Eles deram um beijo em nossas cabeças e eu e Meg fomos pro quarto.
Meg puxou um lençol e colocou um travesseiro e acho que pra ela sua cama já estava arrumada, depois se trocou na minha frente mesmo enquanto eu arrumava minha cama. Comecei a dá risada.
– Que foi? – Ela perguntou.
– Acho que aqui tem um banheiro bem ali pra você se trocar. – Falei
– E acho que tudo que tenho aqui você tem. – Meg falou passando a mão em seu corpo.
E nós começamos a rir. E era um absurdo o que ela tinha falado, porque o que ela tinha eu tinha bem menos que ela.
Terminei de arrumar a cama, e Meg foi escovar os dentes porque ela disse que estavam sujos de pipocas. Enquanto Meg estava no banheiro peguei meu pijama e minha escova de dente e quando ela saiu entrei e fui me trocar.
Escutei um “toc-toc” na porta do quarto, Meg atendeu e ouvi a voz dele. Pensei em abrir ir pro quarto apenas pra vê-lo e me certificar que estava tudo bem depois daquele sonho. Claro que estava, foi apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo daqueles que se eu precisasse não dormir pra não tê-lo, eu não dormiria.
Mas preferi não abrir, percebi que era uma conversa apenas dos dois. Coloquei o ouvido na porta pra ouvir a conversa melhor, não era meu costume fazer esse tipo de coisa, mas tinha ele no meio, e isso que importava.
– Meg! – Ele falou, foi quase um grito.
– Oi Gabri... – Ela tentou falar, mas ele começou a extorquir o que tinha pra dizer antes que ela terminasse.
– Eu não sei o que tá acontecendo comigo. Ultimamente eu só penso na Beatrice, e eu... e eu não sei mais o que ta acontecendo comigo. E eu tenho medo do que isso possa ser, tenho medo do que eu to sentindo. Tudo que eu amo vai embora, Meg. Só me restou você e meus tios. E eu tenho medo que eu esteja sentindo algo forte por ela, e de sofrer com isso, porque eu sei que ela é muito mais do que uma garota como as outras, ela nunca olharia pra uma pessoa estúpida como eu, que só a tratou mal, um bruto, um idiota. – Ele falou sem parar nem pra respirar, e foi inevitável não chorar a cada palavra que ele falava, eu bloqueava meus soluços pra ele não ouvir. E finalmente ele parou.
– Que lindo! – Meg disse com uma voz animada e fofa. – Que lindo, que lindo! Você ta apaixonado, e pela melhor garota do mundo!
– Eu desabafo pra você e é isso que me diz? Que lindo? É só isso que tem a dizer? – Ele disse irritado. Logo após vi a porta se fechar.
Abaixei a tampa da privada e sentei, fiquei em choque, não sabia o que fazer, e as lágrimas só continuaram jorrando, estava confusa demais pra entender o que tava acontecendo. Tentei me acalmar, lavei o rosto e Meg bateu na porta do banheiro.
– Bia, desceu pela descarga? – Meg gritou.
– To aqui. – Falei tentando controlar minha voz.
– Precisamos conversar, hein! – Ela disse.
– Eu escutei tudo. – Falei abrindo a porta do banheiro.