29 de novembro de 2009

Parte 22

Os dias se passaram. Muito raramente eu via Gabriel saindo de casa, ou chegando, mas não nos falávamos, o olhar dele era como o de quando ele me pediu desculpas, um olhar com culpa e dor. Eu e Meg passávamos todos os dias juntas de alguma forma. Eu me divertia quando estava com ela, e até me pergunto como eu fiz pra conseguir viver sem sua companhia esses anos todos, agora eu tinha uma vida, não como a das pessoas normais, mas eu sentia que algo em mim estava aceso. E eu, querendo ou não, isso não era culpa apenas da amizade de Meg, tinha muito do Gabriel na chama da minha vida.
Finalmente tinha chegado o dia de o inferno começar novamente. Era o fim de minhas férias e eu tinha começado o dia na rotina que eu tinha de segunda à sexta.
Depois do café da manhã com meus pais, fui pro jardim esperar Meg chegar, a partir de hoje eu não iria mais com minha bicicleta pensando em como minha vida é monótona, agora eu iria com uma tagalera. Me sentei na grama e como sempre meus pensamentos invadiram minha mente, tantos pensamentos que eu mal conseguia saber o que tava pensando, tantas coisas. Nada envolvendo a escola, seria tudo como sempre. A novidade do semestre é que Meg voltaria a estudar comigo novamente, e isso até me animou um pouco. Além dela, tinha o Gabriel.
A campanhia tocou, só poderia ser ela, fui até a porta com meu material escolar.
– Bom dia – Ela disse.
– Meio difícil ter um bom dia quando tenho que freqüentar aquele departamento.
– Não fala assim, Bia. Comece a ver as pessoas de um jeito mais amigável.
– Ha-ha-ha. – Ri de forma irônica e ela revirou os olhos.
Na portaria do colégio foram as mesmas coisas de sempre, todo mundo contando as viagens que fizeram nas férias, as baladas que foram, os lugares lindos que visitaram, os caras ou as garotas que ficaram, tudo como sempre, as mesmas futilidades que por mais que não fossem as mesmas tinham o mesmo propósito: vida social. O que, praticamente, eu não tinha.
De repente, apenas os garotos continuaram falando, as meninas todas olhavam pra eu e Meg que estávamos paradas apenas observando aquelas inutilidades. Olhei pra trás pra me certificar que não era pra mim, porque afinal, todos já tinham decidido não forçar mais amizade comigo. Quando vi quem estava vindo atrás meu coração bateu tão forte que chegava a doer, pensei até que ele fosse pular de mim. Era Gabriel, tão lindo que eu tinha plena certeza de porque todos agora estavam em silêncio apenas olhando como seu cabelo balançava a cada passo leve que ele dava. Como suas bochechas ficaram vermelhas quando percebeu que todos olhavam para o novo aluno, como seu olhar baixo focando a rua era meigo, como aquele uniforme caía bem em seu corpo. Ou talvez, apenas olhavam o conjunto de todas as partes que lhe formavam, porque provavelmente ninguém o via como eu vejo. Ninguém ali estava se sentindo como eu, minhas pernas bambearam, e parecia que formigas e borboletas tinham atingido meu estômago e meu coração batia tão forte, tão acelerado a cada vez que via seus movimentos, seu rosto, a cada vez que eu o via. Elas apenas sentiam desejo, e não é que eu não sentia isso por ele, claro que eu sentia, ele era o que eu mais desejava pra mim, pra minha vida, e só de pensar naquele meu momento com ele, só em pensar na proximidade que ficamos, eu não sabia como eu podia sentir isso por ele, eu não conhecia que sentimento era aquele, porque eram tantos, tantas emoções, e depois daquele dia eu não conseguia mais olhar pra ele e não sentir dor por saber que aquilo não se repetiria, chegava a me doer fisicamente, o nó na minha garganta que sempre aparecia, agora estava começando a se formar de novo, isso doía. Quando dei por mim, uma lágrima estava caindo em meu rosto, todas as pessoas já estavam comentando sobre sua beleza e ele estava cumprimentando Meg com um “Oi” quando caí na realidade.

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