30 de junho de 2009

Parte 5 e 6

À noite eu fiquei esperando meus pais, não em meu quarto, na sala vendo TV. Por volta das 23:30 eles chegaram. Dei um pulo do sofá e entreguei rapidamente meu boletim a eles.
– Parabéns – Minha mãe falou com uma voz agradável.
– Muito bem, filha. Estou orgulhoso de você, continue assim. – Disse meu pai com um tom baixo e feliz. Jantamos juntos. Depois minha mãe falou que eles tinham algo a dizer.
– Lembra da Meg? – Perguntou-me meu pai, dando um sorriso de lado pra minha mãe.
– Sim – respondi.
– Então, na semana passada ela ligou aqui pra casa a noite, mas você já estava dormindo... – Ele pausou esperando que eu respondesse algo, mas eu apenas fiquei ouvindo, nunca mais tinha recebido notícias dela.
– Bom, ela falou que daqui a dois dias, ela e os pais dela voltam a morar aqui na cidade, na mesma casa de antes. E pedimos que ela nos deixasse te dá à notícia. – Continuou ele.
– Tão de brincadeira comigo? – Falei num tom elevado de felicidade.
– Não filha, é verdade. – Minha mãe disse com uma voz doce. – Ela também disse que vinham com alguém mais na família. – Continuou ela.
Quando Meg foi embora ela era filha única assim como eu, me perguntei se os pais dela tinham tido algum filho. Mas o importante era que minha amiga estava voltando. Eu não conseguia explicar o quão feliz eu estava, não existem palavras que expliquem. Meg foi a única pessoa que tornava meus dias divertidos.
– Ficamos muito felizes com essa notícia, não só porque os pais delas são nossos amigos. Mas também porque depois que Meg se foi você anda muito só. Nós trabalhamos muito e acabamos não te dando tanta atenção, e com a volta dela você terá com quem conversar e se divertir. – Falou minha mãe e logo em seguida pediu pra eu subir pro quarto, porque já estava tarde.
– Boa noite – Desejei-lhes. Depois fui pro meu quarto, escovei os dentes, coloquei o pijama e dormi. Eu tava tão feliz que acabei sonhando com eu e ela brincando juntas na piscina quando éramos crianças.
Tentei acordar cedo pra conseguir tomar café da manhã com meus pais, mas gosto de me acordar um pouco tarde nas férias e nos fins de semana. Desci correndo, mas já era 9:50, não quis tomar café, perdi o apetite. Subi e tomei meu banho, não parava de pensar na volta de Meg. Liguei o computador e fiquei jogando GTA, não consegui me concentrar no jogo, só estava perdendo e eu odeio perder. Então resolvi entrar no meu blog que não mexia a anos, ele me servia como um diário, lá eu desabafava um pouco. Digitei o endereço do email e a senha. O email era meus dois primeiros nomes, e a senha minha data de nascimento, bem óbvio. Comecei a postar, mas dessa vez eu não queria abandoná-lo novamente. Falei sobre a volta da Meg, afinal, eu não pensava em nada além disto. Cansei do computador e resolvi escutar música, escutei a metade de “Stupid Girls - Pink”, mas eu tava tão ansiosa que não conseguia ficar sentada, deitada, ou melhor, em casa. Coloquei um tênis e um casaco enorme que cobria minhas mãos e saí de casa super fashion (ironia), não sabia meu destino.
Andei pelas ruas com as mãos nos bolsos e olhando pra baixo. Resolvi ir tomar um chocolate quente, quando tava dobrando a esquina da rua da lanchonete, senti um empurrão, e caí numa poça de água. Levantei o rosto pra ver quem tinha feito aquele absurdo, me deparei com um garoto segurando um skate, ele tinha o cabelo de lado liso, de uma cor diferente, não sei se é loiro, castanho claro ou mechas das duas cores, com a pele branca, mas não muito, ele tinha cor. Até que era gatinho, ou melhor, SUPER gatão. Mas o que tinha de lindo, tinha de mal educado. Como pôde fazer aquilo com uma garota?
– Olha por onde anda, garota. – Disse ele com uma voz alterada e grosseira.
– Tudo bem, amanhã irei à ótica comprar um óculos por tua causa. – Respondi-o com sarcasmo e dei uma piscadela. Ele olhou com cara feia e saiu no skate. Continuei lá sentada olhando-o até ele dobrar a esquina no fim da rua e ficar fora de minha vista.
Mas que viadinho, além de me derrubar e não me ajudar a levantar, falou grosseiramente comigo.
Me levantei toda molhada e fui pra casa murmurando. Quando cheguei fui tomar banho quente, coloquei um agasalho, uma calça de dormir e fui comer algo, a caminhada me deixou esfomeada. Peguei uma fatia do bolo que tava na mesa, coloquei no prato, depois peguei refrigerante na geladeira e levei pra sala pra comer assistindo TV, tava passando algo sobre esportes, mas eu não prestava atenção, agora só conseguia pensar em duas coisas: A volta de Meg e no menino grosso e lindo. Agora além de contar as horas pra ver Meg, to contando as horas pra esbarrar com ele novamente, mesmo ele sendo idiota, grosso, imaturo, mal educado, etc, meus olhos gostaram de observá-lo. Depois que comi, coloquei o prato na pia, e a latinha do refrigerante no lixo. Eu tava com vontade de ir lá pro jardim relembrar meus tempos de criança com Meg, mas estava muito frio. Então subi pro quarto dos meus pais, fiquei olhando as roupas da minha mãe, ela era tão elegante. Me perdi no tempo, e quando saí do quarto já havia escurecido, desci as escadas pra pegar um livro no escritório do meu pai, lá tem alguns livros legais. A campanhia tocou. Estranho, porque meus pais mal recebem visitas aqui, as vezes recebem nos fins de semanas mas só quando não viajam à negócios e eu não tenho amizades pra receber visitas, que eu saiba Meg só volta amanhã, cheguei até a pensar que era o menino que trombou comigo hoje a tarde, mas era impossível ele não sabia onde eu moro, e me odiou, fui abrir a porta. A campanhia tocou mais e mais vezes.
– Já vai! – Gritei. Quando abri a porta fiquei em choque, Meg Couto Martines estava de volta, na minha frente, incrível que ela não mudou nada, só ficou ainda mais linda. Ela estava mais ou menos da minha altura, um pouco mais baixa, os cabelos castanhos e magra, mas não desnutrida como eu. Ela abriu um sorriso e automaticamente eu também abri um, de um olho ao outro. Ela me abraçou e ficamos no mesmo lugar em silêncio. Lágrimas de felicidades caíram em meu rosto.

28 de junho de 2009

Parte 4

Acordei no outro dia, tomei banho, escovei os dentes, coloquei o uniforme escolar, peguei meus livros e desci pra tomar café da manhã com meus pais, a melhor parte do dia. Dei bom dia aos dois, e eles me responderam com um enorme sorriso estampado no rosto, eu não sabia o porquê daquela felicidade toda, também não quis perguntar. Sentei-me à mesa e mal comi, não consegui parar de observar o bom humor deles. Minha mãe com os cabelos loiros curtos e brilhantes, os olhos grandes e claros, a pele branca, mas nem tanto, e aquele sorriso iluminado no rosto. Meu pai com a pele clara, muito clara, parecia gesso, os cabelos e os olhos castanhos pouco claros, e também com o mesmo sorriso iluminado. Os dois parecem atores de Hollywood, sem me gabar. O que eu me pergunto é como uma criatura como eu pude sair de duas pessoas lindas assim.
Meu pai olhou no relógio de parede que ficava atrás do balcão da sala de jantar, e avisou que tava na hora deles irem trabalhar. Desejei-lhes bom trabalho e eles me desejaram bons estudos com aquele mesmo sorriso. Continuei na mesa tentando terminar meu café, comi devagar sem pressa alguma. Depois de alguns minutos, ouvi uma voz chata dizendo que ta na hora da aula. É incrível como meu único momento de felicidade dura tão pouco.
Cheguei na escola atrasada, o sinal já havia tocado. Pedi licença ao professor, ele acenou com a cabeça e me deixou entrar sem falar nada. Sentei em meu lugar, na última cadeira da fileira encostada na parede direita.O professor disse que no final da aula daria um aviso, então quando a aula terminou ele avisou que daqui a 3 dias as provas começam e as férias do meio do ano estão por vir. Uma triste e agradável notícia. Bom, eu fico triste por meu tédio aumentar, mas super, hiper, mega feliz por ficar um mês e alguns dias sem ver os vermes da escola.
Depois desse dia, to me dedicando apenas as provas, eu não queria ficar em recuperação, meus pais iam falar muito e ficariam decepcionados, apesar de tudo eu tentava ser uma boa filha.
Na quarta-feira da outra semana, fui pegar o resultado. O professor me desejou “boas férias” e entregou meu boletim. Para meu alívio, finalmente férias.

27 de junho de 2009

Parte 3

Eu detesto o colégio, e também detesto minha casa, ela é grande e vazia, só tem os empregados e eles não gostam muito de mim, mas não ligo pra isso, pra mim eles são apenas robôs que são programados por meus pais para fazerem o que eles mandam e no fim do mês receber o tão esperado salário.
Quando cheguei em casa subi logo pro meu quarto, lá pelo menos tenho a minha cama e meu computador, umas das únicas coisas que me faz se sentir bem. É na minha cama que eu caio no sono depois de tanto esperar o beijo de boa noite que há algum tempo não recebo, mas é lá que eu me sinto em meu mundo, é super confortável e me ajuda a ter um sono tranqüilo, onde na maioria das vezes eu sonho com ‘era uma vez’ e ‘felizes para sempre’. E meu computador é o que faz o meu tão valoroso tempo passar, não tenho msn e muito menos orkut, não tenho amigos pra adicionar. Minha única e primeira amiga foi embora á 5 anos atrás quando eu tinha 10 ou 11 anos, depois a gente passou mais ou menos um mês se falando por telefone, até que fomos perdendo contato, daí nunca mais nos vimos, e não tive mais vontade de ter amigos, melhor estar só que mal acompanhada.
Tomei meu banho e desci, a mesa do jantar estava pronta, parecia que quem ia comer era uma boiada e não meus pais. Eu nunca janto lá, aquela mesa é grande demais pra eu jantar sozinha, então peguei um copo de leite na geladeira, esquentei e tomei com torrada, fiquei mais que satisfeita.
Subi até meu quarto, peguei meu casaco e fui até lá fora olhar o jardim, é a segunda parte da casa que eu mais gosto e que me sinto bem, lá ao menos eu fico ao ar livre, apenas eu e o barulho dos insetos, que eu até gosto, faz seus cantos parecerem canções de ninar. Depois fui pro meu quarto, coloquei o pijama, deitei na cama e acabei dormindo sem beijo de boa noite... como sempre.

26 de junho de 2009

Parte 2

Às 7:00 hrs meus pais saem pra trabalhar, meia hora depois eu tenho que enfrentar aquele local que eu tanto detesto, a escola. Com aquelas pessoas tão nojentas, tão hipócritas e tão idiotas. Eu estou no segundo ano do ensino médio, minha sala é grande e a turma tem poucos alunos, mas é o bastante pra deixar o lugar desagradável e a aula tão ridícula. Já não agüento mais aturar aqueles imbecis à cada semana. Eu fico torcendo pra aula acabar o mais rápido possível, mas sempre que olho em minha pulseira relógio que eu tanto amo (devido ser o último presente que ganhei de meus pais), mas as horas nunca passam. Depois de alguns minutos, que pra mim era uma eternidade, o sinal tocou, hora do intervalo. Eu tento aturar aquelas pessoas comendo como se fossem animais, eca! E mais ainda pessoas falsas tentando se aproximar de mim, apenas por eu ser uma Cavalcanti, é incrível como as pessoas olham tanto pro nome e não o que sou, acho que deve ser por isso que não consigo me aproximar delas. O sinal toca novamente, mas agora pra voltar pra nojenta sala de aula. Depois de 2hrs pra meu alívio, a aula acaba e eu comemoro, ou melhor, comemoro por hoje, amanhã eu tenho que passar pela mesma chatisse.
Finalmente pego meus livros, ponho na cesta de minha bicicleta e vou pra casa (meus pais sempre insistem em mandar o motorista me buscar, mas eu me pergunto: pra quê essa frescura toda? se eu posso muito bem pegar minha bicicleta e vim embora ao ar livre?). Pedalei mais quarteirões que o normal, não tava com muito saco pra chegar em casa e voltar pra aquele agradável tédio.

25 de junho de 2009

Parte 1

Contos de fadas começam com 'era uma vez', pra muitos minha vida poderia ser um conto de fadas se eu quisesse, pra mim, tá muito longe disso, eu não tou nenhum pouco perto de ser a princesa, nem de ter um príncipe encantado, infelizmente. Então por aqui não haverá princesas, príncipes, cavalos, castelos, reis, rainhas, e coisas do tipo.
Me chamo Ana Beatrice Tedesco Cavalcanti, tenho cabelos loiros e olhos claros, mas pra mim isso não representa beleza; nasci em 13 de novembro de 1993, tenho 15 anos e moro em Porto Alegre-RS. Venho de uma família muito rica, onde meus pais, Elizabeth Tedesco Cavalcanti e Miguel Tedesco Cavalcanti, são empresários muito importantes, e ser uma Cavalcanti pode significar muito pra muitas pessoas, mas pra mim, bem, pra mim não significa nada. Eu preferia ter pais que me dessem mais atenção e carinho ao invés de mordomia. Eles mal param em casa, e sou filha única, mas sou quase esquecida por eles, quando chegam em casa a noite eu já estou no meu quarto, sempre com a esperança de receber um beijo de boa noite como costume de criança, mas isso nunca acontece, então sempre durmo com um vazio por dentro.
Quando o dia amanhece eu fico feliz, é o único momento que posso vê-los, mesmo recebendo broncas por não ter interesse na vida social, nem querer estudar, não querer fazer nada da vida, segundo eles eu tenho que começar a pensar em meu futuro, porque não sou mais uma criança, e sim uma adoslecente de 15 anos que no fim do próximo ano tem que escolher uma universidade pra começar a vida. Mas eu mal vivo meu presente, muito menos vou pensar em como vou viver meu futuro.