30 de agosto de 2009

Parte 16

– Meg, vou ao banheiro, já volto.
– Espera! Vou contigo. – Disse ela se levantando
– Hum... Acho melhor não, volto rápido – Falei tentando convencê-la
– Ah, ok então – Falou ela sentando-se novamente
Saí em direção ao banheiro, mas desviei e fui até o jardim, e lá estava ele na mesma posição que antes, cheguei um pouco perto, mas hesitei e decidi voltar, ele me detestava não havia nada que eu pudesse fazer.
– Oi – Escutei o dizer com uma voz fraca. Olhei pra trás e percebi que ele tinha me notado.
– Oi, é... é que, então... estão sentindo sua falta na mesa, estão preocupados, mas se não quiser ir, eu posso dizer que te conversando com alguém – Falei, mas na verdade eu que estava sentindo falta dele lá, e eu que estava morrendo de preocupação, mas eu não falaria isso pra ele. E o mais incrível era como perto dele eu não conseguia falar sem gaguejar, as palavras se confundiam, minha mente ficava completamente conturbada.
Eu ficava tão ridícula na frente dele, tão idiota.
Até que eu olhei em seu rosto e vi lágrimas quase secas ainda rolando lá.
– Você ta chorando? – Perguntei sentando em sua frente
– Não to não
Coloquei minhas mãos trêmulas em seu rosto e enxuguei uma lágrima que caía.
– Tá sim – Falei enquanto retirava a mão
– É, acho que sim – Falou como se tivesse perdido uma luta
– O que aconteceu? – Perguntei – Se quiser falar, é claro. Se não quiser...
– Não, não – Ele me interrompeu – Não é nada demais, é só que... eu vejo as famílias todas juntas, e me lembro da minha, é que bate uma saudade – uma lágrima escorreu de seus olhos – Eu me pergunto porque foi assim, porque foi comigo – Ele parou – Desculpa, você não precisa ficar ouvindo...
– Não, continua – Falei
– É que eles eram tudo pra mim, meu suporte. Eu tenho meus tios, tenho Meg, mas não tenho meus pais nem minha irmã. Eu sei que não devia me sentir assim tendo eles, eu sei que to sendo ingrato. Mas é inevitável. E não dá pra comparar ou substituir pai e mãe. – Então ele parou e abaixou a cabeça novamente e eu me permiti afagar seus cabelos enquanto falava.
– Eu acho que te entendo. Eu não perdi meus pais como você, mas eu também me sinto só, eles vivem pro trabalho, e acham que me dando conforto fazem seus papéis. Eu só queria um pouquinho da atenção deles, mas há muito tempo eles não fazem isso. Digo, não me dão atenção, sabe?
– Não, eu não sei – Disse ele com a expressão confusa – Olha, eles estão ali – Ele apontou pro salão – Eles estão lá, eles podem não te dá a atenção que você quer, eles podem não ser os melhores pais do mundo, mas eles acham que estão sendo bons pais assim. Eles acham que você está feliz e mesmo você não estando. Lá estão eles, você pode ir e abraçá-los agora mesmo, você pode ter uma conversa e talvez eles mudem – Ele estava falando como se não agüentasse mais ficar calado e cada vez mais escorriam lágrimas por seu rosto – Você ta entendo o que eu to tentando dizer? – Não era bem uma pergunta mas mesmo assim acenei a cabeça como um sim – É que enquanto há vida, há possibilidade de mudança, há esperança – Ele abaixou os olhos – Mas quando não há vida, quando simplismente... morrem. – Ele parou como se não conseguisse mais pronunciar uma sequer palavra, chorava, muito pior que antes.

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